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Alceu Valença recicla frevos, cirandas e maracatu em vibrante álbum carnavalesco
Música
Publicado em 05/02/2024

É difícil atingir o ponto de fervura ideal para fazer o frevo incendiar os foliões nas ruas e nos bailes de Carnaval. Alceu Valença atinge esse ponto e o mantém ao longo das dez faixas do álbum Bicho maluco beleza – É Carnaval.

Artista referencial no fervo carnavalesco de Olinda (PE) e Recife (PE), capitais de Pernambuco, estado onde veio ao mundo na interiorana São Bento do Una (PE) em 1º de julho de 1946, o cantor e compositor pernambucano recicla frevos, cirandas e maracatu com oito convidados neste disco incendiário gravado com produção musical de Tovinho e mixado e masterizado de forma magistral.

Impressiona no álbum o calor dos metais soprados na brasa por Enok Chagas (trompete), Fabinho Costa (trompete), Gilberto Pontes (saxofone), Marcone Tulio (trombone) e Nilsinho Amarante (trombone).

No álbum Bicho maluco beleza – É Carnaval, esse metais incandescentes se aliam à fúria roqueira da guitarra de Zi Ferreira, músico que mostra ter aprendido a lição do mestre Paulo Rafael (11 de julho de 1955 – 23 de agosto de 2021), instrumentista pernambucano que injetou eletricidade no som de Alceu a partir de 1975.

Bicho maluco beleza é álbum de som quente, vibrante, tão cheio de energia que até a falta de vocação carnavalesca do canto de Maria Bethânia se dissipa na força da abordagem do frevo-canção De janeiro a janeiro (2002), regravado por Alceu com a intérprete que deu visibilidade no álbum A beira e o mar (1984) a uma canção, Na primeira manhã (1980), que Alceu lançara discretamente há então quatro anos.

Bicho maluco beleza é disco coeso, mas é justo destacar o inebriante registro da música-título – apresentada por Alceu no álbum Sete desejos (1992) em clima de forró – na cadência ágil do frevo em gravação feita com a adesão de Ivete Sangalo. Alceu e Ivete cruzam a ponte Pernambuco-Bahia com frevo elétrico que vai atrás do trio sem perda da pulsação olindense.

Com Lenine, um dos reis do balanço pop nordestino, Alceu se afina a recair no suingue de Bom demais (1985), frevo de José Michiles da Silva, octogenário compositor celebrado em Pernambuco com o nome artístico de J. Michiles. Outro frevo de Michiles, Diabo louro (1994) solta faísca na gravação feita por Alceu com o filho Juba.

E por falar em energia, a paraibana Elba Ramalho reitera a vocação foliã ao acompanhar o passo sinuoso de Caia por cima de mim (Alceu Valença e Don Tronxo, 2006) em duo com o anfitrião pernambucano.

Com o conterrâneo Almério, Alceu eleva O homem da meia-noite (1975) – parceria de Alceu com Carlos Fernando (1937 – 2013), a quem o álbum é dedicado – na multidão do Carnaval como um boneco gigante da perna de pau de bloco de Olinda (PE).

Em Maracatu (Alceu Valença sobre versos do poeta Ascenso Ferreira, 1982), faixa sem convidados (questões de agenda inviabilizaram a participação de Seu Jorge), o baticum ganha ênfase em arranjo que mantém a eletricidade do disco enquanto joga luz sobre bela composição que merece ficar sob os holofotes.

Na sequência praieira, a bateria de Cássio Cunha parece dar pancada nas águas do mar quando Alceu encadeia três cirandas – Quem me deu foi Lia (Manoel José e Antonio Baracho), Moça namoradeira (Lia de Itamaracá) e Janaína (Lia de Itamaracá)– em dueto com Lia de Itamaracá, rainha desse gênero musical já incorporado ao Carnaval de Pernambuco.

Ainda na praia da ciranda, Alceu ilumina Luar de prata (2006) e a fina costura do disco em gravação bafejada por solo do trompete de Heleno Feitosa.
A propósito, o encadeamento das dez faixas em Bicho maluco beleza contribui para a perfeição do disco, construindo narrativa que desemboca no frevo conduzido por Táxi lunar (Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho, 1979) na alta velocidade rítmica que junta Alceu com o conterrâneo Geraldo Azevedo, parceiro na criação da música, hit obrigatório nos shows de ambos.

Enfim, com a edição do álbum Bicho maluco beleza – É Carnaval em 26 de janeiro, Alceu Valença prova, mais uma vez, que é possível fazer um grande disco com repertório antigo e sopros de novidades pela forma com que as músicas são regravadas e realinhadas. A folia é irresistível!

do G1 (Mauro Ferreira)

 

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