A publicitária Mariana Dechandt, de 28 anos, não esconde o pavor que sempre sentiu por aranhas. Bastava ver um animal da espécie, pequeno que fosse, em cima da mesa de trabalho, entrava em pânico. Suava frio, tremia, ficava sem ar, gritava e chorava sem parar. Perdia o controle e a noção do perigo. Só após o tratamento psicoterápico, descobriu que as sensações não eram de um medo qualquer, mas de um tipo de transtorno de ansiedade. “Eu sentia muita vergonha. As pessoas me zoavam, achavam que era exagero, drama, já ouvi muito isso. Ninguém acreditava.”
Mariana não é a única a enfrentar esse tipo de julgamento. O psiquiatra José Alexandre Crippa, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP), explica que a maioria das pessoas que sofre algum tipo de fobia é mal interpretada. Uma pesquisa inédita coordenada por ele comprovou que existe uma causa fisiológica - e não só psicológica - para o problema. O estudo constatou que pessoas com fobias simples possuem uma área do cérebro menor do que aquelas que não sentem qualquer tipo de medo.
“Isso não é manha, não é fraqueza de caráter, não é preguiça, não é personalidade fraca. Existe uma base biológica, que parece justificar o desenvolvimento desse transtorno. Parece que existe uma causa neurobiológica que contribui para o desenvolvimento da fobia”, afirmou Crippa, destacando que foram pesquisados dois grupos de voluntários com idade, escolaridade e nível socioeconômico equivalentes, um era formado por pessoas com medo de aranhas e outro sem nenhum tipo de transtorno.
Estudos
Na primeira parte da pesquisa, os voluntários foram colocados em plataformas muito sensíveis ao movimento, em frente a uma tela, onde eram projetadas imagens comuns, depois de situações que causam repulsa, como acidentes de trânsito, e, por fim, fotos das aranhas. “Na hora em que elas viam as imagens de aranha, era como se elas quisessem fugir e o balanço delas na plataforma era muito maior”, disse Crippa.
Na segunda etapa, decisiva para o resultado da pesquisa, os grupos foram submetidos a exames de ressonância magnética para verificar o volume das áreas do cérebro. O resultado é que uma região chamada cíngulo anterior do córtex, localizada atrás do lóbulo frontal e responsável pelas emoções, é menos espessa em pessoas com fobia. “Essa área, classicamente, está associada a processos cognitivos de medo e ansiedade”, explica.
O próximo passo do estudo, que recomeça em 2015, é realizar sessões de psicoterapia com os voluntários e refazer as ressonâncias magnéticas em cada um deles, para verificar se houve algum tipo de diminuição ou aumento da área do cérebro identificada menor. “O grande avanço é que nós damos um passo para entender a fisiopatologia das fobias. Entender que existe uma causa biológica para o problema.”
Mariana se antecipou. Depois de passar pela pesquisa da USP há quatro anos, procurou uma psicóloga por conta própria e, desde então, disse que está mais tranquila em relação à fobia. Agora, quando vê uma aranha, consegue se afastar e evitar o local onde o animal está. Mesmo assim, convidada pelo G1 a fazer uma foto próxima a um mostruário de aranhas mortas, negou. “Eu não entro em desespero, mas ainda fico impressionada. Estou sempre com o veneno do lado. Quando está acabando, eu já compro outro.”
G1