Ele fala de 1º filme como diretor, com texto de Nelson Rodrigues de 1961 sobre 'escândalo' de beijo de dois homens. Débora Falabella atua e diz que também vê trama 'mais atual' hoje.
Filmagem de 'O beijo no asfalto' com diretor Murilo Benício e a atriz Débora Falabella (Foto: Divulgação)
Um beijo entre dois homens no meio da rua, descrito como "pederastia em via pública", vira um escândalo turbinado por moralismo e compartilhamento de informações falsas. Murilo Benício confessou ao G1 que se questionou em 2105, quando foi filmar o tal escândalo de "O beijo no asfalto", texto de 1961 de Nelson Rodrigues: Será que essa "não era uma questão ultrapassada"? Hoje, o diretor diz: "Eu acho que esse filme é tão atual que parece que a gente anda em círculos".
Débora Falabella, Fernanda Montenegro e Lázaro Ramos atuam no primeiro filme dirigido por Murilo Benício. O longa mostra a história original e, em paralelo, tem uma mesa de debate sobre o texto. Fernanda é a figura central da discussão, já que ela estrelou a montagem original da peça, em 1962.
O filme teve sessões na Mostra de SP e a estreia nacional em circuito comercial acontece em 2018, ainda sem data confirmada, segundo a asessoria.
"A gente ainda tem a 'Fernandona' falando de quando ela fazia teatro na época da repressão. O que cabe perfeitamente no momento que a gente está vivendo hoje em dia. Parece que a gente está caminhando para uma repressão, e a gente está tentando lutar", diz Murilo.
"No final do filme, inclusive, tem uma frase linda da Fernanda que diz: 'Nós sobrevivemos'. O Amir [Haddad, diretor de teatro] fala: 'Sobreviveremos sempre'. E ela fala: 'Sobreviveremos sempre'. É um pouco a condição do artista: nós sobreviveremos sempre".
A história de Nelson Rodrigues começa com o beijo de um homem em um desconhecido que agoniza após ser atropelado. O gesto de solidariedade vira ponto de partida para um linchamento moral e tragédia amplificada por uma espiral de boatos, mentiras e hipocrisia.
Débora Falabella, namorada de Murilo, o incentivou a terminar o projeto do filme, que começou há dez anos, e o encorajou a investir na produção.
Assim como o diretor, ela considera oportuno o momento de lançamento. "É muito impressionante, porque eu falo que os grandes dramaturgos têm o poder de continuar presentes no nosso tempo. E isso acontece com o Nelson".
"Você assiste à peça e consegue relacionar com os dias de hoje. E nesse caso eu vi o filme desde muito tempo, desde o primeiro corte. Agora parece que ele está mais atual. Principalmente quando a gente fala, no filme, de censura, de linchamento virtual, de 'fake news'", ela diz. (G1)