Um negócio de família de quase 50 anos e predominantemente masculino. Assim era a oficina mantida pela família “Ganho” em Ibitinga, no interior de SP. Tudo mudou quando Larissa Nicola Ganho, de 26 anos, decidiu não apenas aprender o ofício que moldou a história de sua família, mas também repassá-lo para outras meninas nas redes sociais com muito carisma e bom humor.
Atualmente, com mais de 200 mil seguidores somente no Instagram, Larissa jamais poderia imaginar que chegaria a esses números quando decidiu, em 2019, largar o antigo emprego como vendedora em uma loja de eletrodomésticos para se empenhar na oficina mantida hoje pelo pai, mas que também já foi do avô um dia.
“Estava tendo muita ansiedade por eu me cobrar muito sobre as metas no meu antigo emprego e, para não ficar mais doente, resolvi sair. Depois disso, meu pai resolveu me chamar pra trabalhar com ele aqui na oficina e desde então ele me ensina todo o serviço dele”, conta Larissa.
Ao lado pai e também do irmão, o estabelecimento mantém vivo o ambiente familiar, que teve origem com o avô Waldemar, em 1976, com a criação da empresa. Primeira mulher do grupo, Larissa ostenta com orgulho o cargo de bobinadora eletricista.
Em meio ao trabalho de interpretar motores elétricos, geradores e transformadores, mensurar grandezas elétricas, realizar o enrolamento de bobinas, induzidos, estatores e rotores, ela consegue separar um tempo para gravar a sua rotina na oficina.Com sotaque característico do interior de SP, tom didático nos ensinamentos e muito carisma, Larissa atraiu uma legião de fãs nas redes sociais e ganhou o carinhoso apelido de “graxinha”.“Tento passar o que estou fazendo nos vídeos de uma maneira que fique simples para todas as pessoas entenderem. Gosto de colocar um pouco de humor pra deixar mais leve e dizem que meu jeito de falar ajuda. Acredito que um pouco de humor alegre o dia de qualquer pessoa”, diz.A ajuda para fazer os vídeos vem do namorado. Embora o conteúdo seja complicado para o público geral, incluindo até mesmo comentários de gente que diz não entender muito, um dos grandes momentos para todos foi justamente quando Larissa conseguiu rebobinar o primeiro motor do zero.
“O mais difícil foi aprender a rebobinar e fazer as ligações dos motores, tem muitos tipos diferentes no qual eu ainda estou aprendendo”, relata.
Sem receio de ser verdadeira e dizer que ainda está aprendendo, Larissa também não tem medo de denunciar o preconceito sofrido em um ambiente majoritariamente masculino. “Infelizmente já ouvi muito ‘chama o cara que entende', 'posso falar como técnico' e outras coisas do tipo”.Porém, isso não abala Larissa, que acredita na importância de ocupar espaços que, outrora, foram negados às mulheres. E sobretudo, na felicidade em poder estar em união com família e fazer algo que lhe deixe feliz.
“A satisfação de fazer o que gostamos deixa as dificuldades bem pequenininhas. Lógico, elas sempre existirão, mas tenha em mente que, com Deus em primeiro lugar, força de vontade e persistência, podemos estar em qualquer lugar e fazer o que quisermos”, conta.
fonte:G1