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'Grande Muralha Solar' da China está produzindo energia limpa e combatendo a desertificação; entenda como
Mundo
Publicado em 27/01/2025

A China está transformando o deserto de Kubuqi, na Mongólia Interior (região autônoma ao norte do país), com um projeto ambicioso que mistura energia limpa e recuperação ambiental.

O local, antes conhecido como "mar da morte" por suas dunas áridas e ausência de vida, agora abriga um enorme complexo de painéis solares.

Apelidada de "Grande Muralha Solar", a iniciativa faz parte de um plano nacional para abastecer a capital Pequim e outras áreas urbanas com energia sustentável.

A meta é gigantesca: até 2030, o complexo terá 400 quilômetros de comprimento, 5 quilômetros de largura e será capaz de produzir até 100 gigawatts de energia.

 Até agora, já foram instalados cerca de 5,4 gigawatts, o equivalente a uma pequena cidade de médio porte em consumo energético.

O clima ensolarado, o terreno plano e a proximidade de centros industriais tornam Kubuqi uma região ideal para a começo da iniciativa.

As placas solares estão sendo montadas em faixas próximas ao rio Amarelo, também conhecido como Huang He ou Huang Ho (o segundo mais longo rio da China e o 6.º maior do mundo) entre as cidades de Baotou e Bayannur.

Mas os primeiros resultados do projeto já são visíveis do espaço. Imagens de satélite capturadas entre dezembro de 2017 e dezembro de 2024 mostram uma mudança impressionante na paisagem local (veja abaixo).

As dunas de areia, que antes dominavam a vista nesta região da Ásia Central, agora foram substituídas por vastas extensões dos painéis solares que refletem a luz do sol.

Um dos destaques do projeto, inclusive, é a usina solar Junma, que forma a imagem de um cavalo galopando quando vista do alto.

Inaugurada em 2019, ela entrou para o Guinness como a maior imagem criada com painéis solares e gera energia suficiente para abastecer entre 300 mil e 400 mil pessoas por ano.

Do 'mar de areia' ao verde
Fora tudo isso, além de produzir energia limpa, o projeto busca também combater a desertificação e a aridez.

Isso porque as placas instaladas ajudam a fixar as dunas e reduzir o impacto dos ventos. Com o tempo, elas também criam sombra, diminuindo a evaporação e permitindo o cultivo de pastagens e plantas sob elas.

CONTEXTO: A aridez é a falta crônica de umidade no clima, indicando um desequilíbrio constante entre a oferta e a demanda de água. Ela é permanente e, por isso, difere da seca, período temporário de condições anormalmente secas.

Dados de satélites da Nasa, a agência espacial norte-americana, mostram inclusive que outras regiões desérticas da China também estão se tornando mais verdes graças a iniciativas similares.

 Em alguns casos, empresas começaram até a plantar culturas como alcaçuz e melões, além de criar gado, algo que também melhora a fertilidade do solo e combate a erosão.

Agora, apesar das vantagens, há desafios no projeto. A construção das linhas de transmissão, que levam a energia solar para os centros urbanos, não está indo tão rápido quanto o esperado pelo governo chinês.

Além disso, especialistas alertam para o risco ambiental da escavação de dunas de areia para instalar os painéis solares, o que poderia, em tese, piorar a desertificação.

Isso acontece porque as dunas têm um papel vital na manutenção da estrutura do solo, ajudando a bloquear os ventos fortes e a reduzir a erosão. E isso também pode afetar a biodiversidade local, já que muitas espécies dependem das condições naturais do deserto para sobreviver.

Mas o fato é que, segundo dados mais recentes, de junho de 2024, a China lidera o mundo em capacidade de energia solar instalada, com 386.875 megawatts – cerca de 51% do total global. Em comparação, nesse mesmo mês, os Estados Unidos tinham 79.364 megawatts e a Índia, 53.114 megawatts.

 

g1. Foto: Nasa

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