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Chuva mais forte do mês causa alagamentos, estragos, sustos e caos em Bauru
24/01/2014 11:15 em Notícias Região

alaga

Menos de duas horas de chuva bastaram para transformar a manhã de ontem em um verdadeiro caos para muitas famílias em Bauru. Num mês até então marcado pela seca, o temporal, que começou das 6h15 às 7h30 e seguiu com intervalos até as 9h, provocou uma onda de estragos por toda a cidade. Por pouco, não houve mortes.

A média histórica previa 290 milímetros de chuva para janeiro em Bauru, mas até ontem os registros do mês não superavam 80,3 milímetros – os 24,1 milímetros de precipitação ontem, no entanto, já foram suficientes para promover uma série de estragos.

Acidentes, carros e ônibus submersos, pessoas sendo resgatadas em meio ao rio que se formou nas avenidas Nações Unidas e Nuno de Assis, trem descarrilado, casa e veículo destruídos por raios, desabamentos, erosões, rios transbordados e alagamentos registrados em vários bairros. 

Só no Pousada da Esperança cinco famílias ficaram desalojadas, após suas residências serem invadidas por enxurrada e lama e terem as estruturas danificadas (leia mais na página 11). Ao todo, 15 pessoas foram levadas para hotéis sociais custeados pela Secretaria Municipal do Bem Estar Social. De acordo com a Defesa Civil, outras famílias também ficaram desabrigadas na favela São Manoel.

“O temporal veio da região oeste e não da sul e sudeste, como sempre acontece. A chuva começou na região do Geisel e passou por toda a cidade, danificando algumas vias públicas e residências. Era um cenário para ter morrido gente. O que aconteceu hoje aqui era para ter deixado entre 100 e 150 famílias desabrigadas”, avalia o coordenador da Defesa Civil, Álvaro de Brito.

Do sonho ao pesadelo

Era por volta das 6h30 quando Lucilene Sanches Gonçalves, de 38 anos, atualmente desempregada, viu seu sonho da casa própria se transformar em pesadelo.

Moradora da quadra 1 da rua Aviador Gomes Ribeiro, na Vila Santa Isabel, Lucilene acordou, literalmente, com os pés na lama. 

A casa em que ela mora com as filhas de 12 e 13 anos, financiada pela Caixa Econômica Federal há dois anos, estava tomada pela água da chuva e de um córrego que transbordou nas imediações da linha férrea. 

“Tive que colocar cobertores e móveis nas portas para conter a força da água. Foi um desespero. A água chegou a quase um metro. Perdi tudo, vários móveis e materiais de construção”, conta, chorando, a mulher.

“Eu não comprei um rio, comprei uma casa que vou continuar pagando pelos próximos 23 anos. Só queria viver com dignidade, afinal pago todos os meus impostos em dia. E ainda estou pagando a geladeira e os móveis que tive que comprar depois chuva no ano passado. Agora, perdi tudo outra vez, não sei o que vou fazer”, completa Lucilene.

A desempregada mostra uma solicitação indeferida pelo Departamento de Água e Esgoto (DAE) para implantação de bocas de lobo na rua em questão, que em março de 2013 também sofreu com alagamento.
 

Desesperador

Além de Lucilene, várias pessoas sofreram com alagamentos em diversas regiões da cidade. 

No Jardim Petrópolis, o técnico em informática Fabiano Gomes da Silva, de 31 anos, passou o dia todo em um mutirão com vizinhos limpando as residências da quadra 1 da rua Eurico Ayres Prado, que receberam a enxurrada de toda a parte alta do bairro.

“Tive que quebrar parte do muro para a água sair. Foi desesperador ver a água estragando a geladeira, os móveis, tapetes. Os bueiros dessa rua não suportam a água quando chove e já havíamos reclamado para a prefeitura. Mas eles vêm, só fazem a limpeza e vão embora”, reclama o morador. “Chega de sofrimento, vou mudar para um apartamento o quanto antes”, planeja.

No mesmo bairro, na quadra 3 da rua Joaquim Radicopa, a mesma sensação de desespero é descrita por Camila da Silva, de 33 anos, e Aliça Bruna Valotti, de 18 anos, mãe e filha.

Alguns cômodos da casa também foram invadidos pela enxurrada e por esgoto, por volta das 6h30, o que ocasionou a perda de todos os móveis, inclusive o colchão e o berço do quarto do pequeno João Pedro, de 2 anos.

“A boca-de-lobo da rua não comporta a água da chuva e também temos problemas constantes com o retorno de esgoto por aqui. Quero ver quem vai arcar com esse prejuízo agora”, critica Camila. 

Pousada da Esperança

O colchão que Felipe Augusto de Oliveira, 16 anos, ganhou há 30 dias estava ontem estirado no meio da rua. Ele foi levado pela água junto com todo o resto da casa do estudante, localizada na quadra 6 da rua Joaquim Gonçalves Soriano, na Pousada da Esperança. Pessimismo? “Pelo menos não morreu ninguém”, diz o jovem, que ajudou a salvar os outros sete familiares que estavam na casa quando a chuva começou.

O Pousada da Esperança foi um dos muitos bairros que colecionou histórias tristes na manhã de ontem. Mais do que palavras para descrever a situação era só olhar para os imóveis aparentando terem sido atingidos por uma bomba e para os tijolos, telhas, roupas e muitos eletrodomésticos jogados pela rua. A esperança que batiza o bairro, porém, ainda é vista nas ações dos moradores.

“Era umas 6h da manhã. Eu estava dormindo quando a água veio. Estava em um quarto com meus outros irmãos”, conta Felipe. Na casa, além dele, estavam os pais, de 36 e 35 anos, e os irmãos, de 18, 12, 8 e 2 anos. “Tinha ainda uma sobrinha minha, de apenas 8 meses”.

Quando a chuva chegou, Felipe conta que viu o muro da casa desabar. O mar de lama veio com toda a força. “Meu irmãozinho, de 12 anos, se escondeu embaixo da cama para o muro não cair nele”.

Felipe conta que o pai segurava uma das paredes para não cair enquanto ele e outros irmãos ajudavam a resgatar as crianças. Uma vizinha também veio ajudar. “Eu corri para tirar meu irmão debaixo da cama. Nisso, vi meu pai saindo do meio da água com a pequenininha, de 8 meses, no colo”. 

A família, que vive há 3 anos na casa, nunca tinha passado nada semelhante. Todos foram para a casa dos avós de Felipe. Os pais precisaram passar por atendimento médico. “Meu pai machucou as pernas. As pedras e madeiras que vinham com a água batiam nele. Minha mãe bateu a cabeça. Eles foram para o hospital, mas não é nada grave. Como eu disse, perdemos tudo, mas sorte que todos saímos vivos”, conclui o estudante.

JCNET

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