Desconfiada de que a filha era maltratada na escola, a estudante de pedagogia Isabel Cristina Alves da Rocha Moreno, 39 anos, mãe de uma menina de 4 anos, escondeu um gravador na mochila da menina e conseguiu registrar as agressões feitas por uma professora na escola municipal Esther Gazoni, em Araçatuba, no interior de São Paulo. Outras quatro crianças também teriam sido hostilizadas pela mesma professora na mesma escola.
Isabel, que trabalha como estagiária de professora, conta que desde fevereiro a filha voltava da escola reclamando da professora. “Fiquei preocupada com as reclamações e com mudanças de comportamento da minha filha, que chorava muito”, conta. Até que em 10 de abril, depois de a menina voltar chorando da escola e com manchas em um dos braços – torcido pela professora –, ela decidiu fazer a gravação.
“Antes de levar minha filha, gravei um vídeo com ela contando o que se passava na escola e coloquei um telefone celular com o módulo de gravação de áudio ativado, na mochila escolar dela”, conta Isabel. A intenção era tentar descobrir e comprovar as agressões na escola. “As pessoas não iriam acreditar em mim se eu só contasse o que estava acontecendo com minha filha. Eu precisava de uma prova”, diz.
Na volta para casa, Isabel e o marido, o metalúrgico Marco Antônio Moreno Mazarin, 41 anos, foram ouvir a gravação e se assustaram com os gritos dados pela professora, durante uma conversa com a coordenadora da escola: “Eu vou jogar ela na parede”. “Eu não quero ela aqui, eu não quero!”. “Vou jogá-la na parede, vou arrancar a cabeça dela!”, dizia a professora, aos gritos.
“Ficamos assustados, horrorizados e com muito medo. Efetivamente, essa professora poderia causar algum dano à minha filha”, conta Isabel. Ao conversar com a filha, ela ficou sabendo que os gritos foram dados para a coordenadora da escola, na frente da menina e de amiguinhos da mesma classe. “Minha filha viu quando ela gritou, na frente dela e de outras crianças”, conta Isabel.
Isabel e o marido passaram o fim de semana ouvindo as gravações para ter certeza do que realmente ocorrera. No dia 12 de abril, decidiram levar a gravação à Ouvidoria Geral da Prefeitura de Araçatuba. Ao tomar conhecimento do conteúdo da gravação, o ouvidor pediu o afastamento imediato da professora e a abertura de uma sindicância. No dia 14, a Delegacia da Mulher de Araçatuba começou a denúncia em sigilo.
O caso só foi revelado à imprensa na terça-feira, por Isabel. “Eu pretendia manter segredo, mas decidi revelar agora para a imprensa porque outras mães me procuraram e também porque muitas pessoas, que não conheciam a situação, estavam me acusando injustamente de querer prejudicar a professora, causando o afastamento dela só por causa de uma ‘bronca’ que ela tinha dado em uma criança. Mas só eu sabia que não era uma simples bronca e não podia segurar mais”, contou Izabel.
Isabel diz que outras três mães confirmaram as agressões aos filhos. “Sei que cinco crianças foram agredidas verbalmente ou fisicamente pela mesma professora”, diz. O nome da docente não foi divulgado, mas, segundo a prefeitura, ela foi afastada até que uma comissão conclua a investigação administrativa do caso.
Segundo a delegada da Mulher de Araçatuba Luciana Frascino Pistori, o caso foi concluído pela Polícia Civil e enviado nesta semana para decisão do Juizado Especial Criminal (Jecrim). Segundo a delegada, as agressões verbais contra a criança foram confirmadas, mas os exames periciais que constatariam as agressões físicas foram prejudicados. “Trata-se de crime de menor potencial ofensivo”, disse Luciana. Segundo ela, o Jecrim vai apurar crime previsto no artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescene (ECA), que é “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento”, cuja pena é de seis meses a dois anos de detenção.
“O que eu quero é somente Justiça, ela tem de pagar pelo que fez com minha filha, que parou de dormir sozinha no quarto dela porque tem medo, acorda de noite com pesadelos e vive chorando, com medo da professora”, desabafou. A criança continua assistindo às aulas na mesma escola, mas está passando por acompanhamento psicológico no Conselho Tutelar e no Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Cras). A Defensoria Pública de Araçatuba, que acompanha o caso, informou que espera receber o relatório do procedimento policial para se posicionar sobre o caso. O Jecrim deve decidir sobre o caso nos próximos dias
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