Duas gatas mutiladas, com apenas dois meses de idade, foram jogadas no quintal de uma casa em São Carlos (SP). No local havia dois cães das raças pitbull e pastor alemão que só não atacaram os felinos porque eles se esconderam dentro do escapamento do carro. O caso não teve um final trágico graças à moradora Iasmim Smargiassi, que os acolheu e acionou a ONG Cachorro Ajuda. "Elas estavam muito assustadas e desnutridas. Comiam chorando", disse.
Os dois filhotes não possuem uma das patas traseiras e um deles ainda teve os dedos de outra pata cortados, segundo a veterinária que os atendeu. A moradora não se conforma. “Provavelmente as jogaram aqui para matá-las de vez. Eu não estava em casa, mas minha mãe rapidamente viu e prendeu os cachorros. Quando cheguei, notei que as duas tinham a mesma pata de trás cortada. Senti muita raiva. Como alguém pode fazer isso?”, questionou indignada Iasmin, que mora no Jardim Zavaglia.
Por meio de uma rede social, ela pediu ajuda à ONG, que existe há quase três anos e presta assistência a animais abandonados e vítimas de maus-tratos. As gatinhas foram levadas à clínica, onde foram medicadas com antibiótico e vermífugo, além de receber curativos nos locais das mutilações.
Barbárie
"As duas têm a mesma idade e provavelmente são irmãs. Sofreram duas mutilações no mesmo local (pata traseira direita). Isso é muita barbárie! Não dá para afirmar como foram cortadas, apenas que foi uma ação humana mesmo. Estavam com dor e tinham muitos vermes”, disse a veterinária Bruna Garcia.
Apesar dos ferimentos graves, os animais resistiram bem. “Filhotes têm um poder de cicatrização maior que os adultos. Acredito que os cortes não tenham sido feitos no dia do abandono, pois as patas não estavam muito inchadas. Elas terão que voltar daqui a uma semana para uma nova consulta. Mas terão sim uma vida normal com três patinhas. Poderão correr, pular e brincar”, ressaltou Bruna.
Denúncias de maus-tratos
A presidente da ONG, Flávia Rosseler destacou que a entidade recebe em média quatro denúncias por semana. “São casos de animais que ficam sem alimento e água, acorrentados no sol, dia e noite. Ou então estão presos em um cubículo sem luz ou em terrenos baldios. Não temos provas, mas há denúncias de cachorros que choram juntamente com gritos humanos, o que provavelmente é alguém batendo no animal. Nos últimos meses, surgiram muitos com cinomose, em estado grave. O dono percebe que o cachorro está doente e deixa pra lá, até que um vizinho, ou ele mesmo, nos ligam pedindo ajuda”, comentou.
Amor à primeira vista
As irmãs abandonadas ficaram poucas horas na clínica veterinária de Bruna devido a um caso de amor à primeira vista. A estagiária de tecnologia em informação Raquel Rufca é voluntária da ONG e acompanhou a situação desde o início. Conheceu os animais na clínica e logo viu que eram especiais.
"Sempre separo o trabalho da ONG da vida pessoal, senão teria dezenas de bichos em casa. A primeira intenção era arrumar um lar temporário, mas logo que as vi, me apaixonei. Vi que eram diferentes, carentes e amorosas ao mesmo tempo.", comentou.
Além da família, a jovem já vive com uma gata e quatro cachorros em casa, mas isso não foi problema. "Todo mundo as adorou, inclusive os outros animais. A adaptação tem sido ótima. Minha mãe se apaixonou. Agora elas se chamam Vitória e Verena e terão um lar com carinho para sempre", afirmou.
Antes de encerrar a entrevista, Raquel ainda deixou uma lição que chama à responsabilidade todos que se deparam com situações parecidas com esta. "Se cada um fizesse um pouquinho, não haveria tantos animais abandonados nas ruas", destacou.
G1