Sete famílias de Araraquara (SP) mantêm viva a tradição hippie, movimento que ganhou o mundo na década de 1970 por pregar a liberdade de expressão e a vida alternativa. Eles vivem em uma comunidade há 15 anos e tiram o sustendo da natureza e da venda de artesanato.
O movimento hippie surgiu ainda nos anos 1960, nos Estados Unidos. Os jovens passaram a defender um mundo alternativo, guiado pela liberdade. O auge da contracultura foi no festival de música de Woodstock, em 1969, quando a ideia se espalhou por vários países.
Os integrantes da comunidade em Araraquara dividem o espaço e somam os mesmos ideais, como a liberdade e a não-violência. O artesão Moisés Oliveira disse que não se importa com a aparência e que o preconceito existe. “Não só pelo cabelo grande ou pela barba, mas pela maneira que a gente se veste e pelos trabalhos que fazemos”, afirmou.
O artesão Marcos Novaes, que também faz parte da comunidade, explicou que 99% das roupas deles vêm de doações ou são adquiridas em brechós e customizadas. Ele conta que a comunidade tenta seguir a tradição, mas muita coisa mudou. “Podemos chegar à transcendência de outra forma, como uma meditação em meio à natureza. Muitas vezes nós optamos por isso”, falou.
O contato com a natureza também é utilizado para retirar o próprio sustento. Na comunidade existem plantações de frutas e verduras, além de árvores que são utilizadas como matéria-prima para o trabalho.
O artesanato é a única fonte de renda dos moradores que produzem colares, brincos e esculturas. “Usamos, por exemplo, o cedro para fazer biojoias e ecojoias”, explicou Novaes.
Tradição
O estilo hippie também vale para as crianças e adolescentes. Eles são estimulados desde pequenos. “Quando eu quero me expressar, meus pais compram tinta guache para mim e para minhas irmãs para desenharmos nas paredes”, contou uma das crianças.
Todos que moram na comunidade vão para a escola. Um exemplo é a estudante de ciências e letras Nayara Batista. Ela disse, entretanto, que a tecnologia não é rejeitada na comunidade. “A tecnologia não é uma coisa ruim, se bem utilizada. Tanto que nas escolas existe acesso a computadores e à internet. Querendo ou não, nós não vivemos mais nos anos de 1960 e 1970. Os tempos mudaram”, ressaltou.
Cultura
A comunidade está crescendo e vai ganhar até uma capela da Igreja Católica Ortodoxa. Segundo o padre Felipe Lopes, o objetivo é a inclusão dos moradores. "Trabalhamos pela igualdade e fraternidade e que todos possam ter direitos e valores cristãos iguais”, falou.
Enquanto a capela não fica pronta, os moradores fazem a oração em forma de música. Eles escutam os ídolos da cultura hippie. “Eles passam através das letras as mensagem que queremos dizer e não conseguimos. Raul Seixas, Geraldo, Jimmy Hendrix e Mercedes Sosa são músicos que costumamos ouvir porque têm a ver com nossa visão de mundo", disse Novaes.
Para ele, a busca por um mundo alternativo tem que começar cedo porque o caminho da liberdade é longo. “Nunca vamos desistir. Algumas pessoas dizem que esse sonho é utópico, mas nós acreditamos nele e sabemos que é possível realizá-lo”, disse.
Ocupação
Segundo a Prefeitura, a comunidade está instalada em uma área particular. Mas os moradores disseram que estão entrando com o processo de usucapião, que é o direito do cidadão adquirir a posse de um bem em decorrência do uso por determinado tempo.
G1