Na casa de Luciano Alexandre Marioto e Edna Moreira de Souza, em Ubatuba (SP), vivem quatro filhos do casal. É através deles que a família afirma perceber com mais evidência a falta de Yasmin. A criança, hoje com 10 anos, foi tirada dos pais biológicos em 2007 pela Justiça para ficar com a madrinha Rosângela Romaneli Canova, depois de uma acusação de maus-tratos movida por ela ao Conselho Tutelar de Taquaritinga (SP). Há um ano e meio, a menina é considerada desaparecida depois de uma decisão do Tribunal de Justiça (TJ-SP) que devolveu sua guarda para Edna e Marioto.
Por outro lado, a defesa de Rosângela alega que a menina está bem e que sua tutora aguarda um possível efeito suspensivo para a decisão em segunda instância.
“A gente não esquece. Eles [os filhos] ficam cobrando: ‘cadê a Yasmin, pai?’. E eu não sei o que falar. Nos sentimos fracos”, afirma Marioto. É na presença e na integridade dos outros quatro filhos que o eletricista deposita um de seus principais argumentos para a acusação de que ele e sua mulher se descuidaram de Yasmin.
Ele defende que, se houvesse algo errado em casa, as outras crianças também teriam sido tiradas de sua tutela. "Se eu fosse um pai mau, por que a Justiça não teve interesse em vir buscar as outras quatro crianças? Só teve interesse em uma, qual é o motivo? Estou aqui faz dez anos. Nunca o Conselho Tutelar veio aqui em casa. Não tem reclamação nenhuma dos meus filhos na escola", defende.
Na versão dos pais, a perda de Yasmin começou com uma história de amizade com a funcionária pública Rosângela antes mesmo do nascimento da criança em janeiro de 2004, relata Edna. Festas, fotos entre amigos e ajuda para o que fosse preciso no período em que o casal vivia no interior de São Paulo faziam parte da relação, que segundo a empregada doméstica, mas tarde tornaria a funcionária pública madrinha de sua filha, e posteriormente, sua mãe adotiva.
Ela garante nunca ter pensado na ideia de perder a criança para uma amiga. “Ela já era casada, tinha uma filha de 14 anos. Dizia que não queria ter mais filhos. Quando a Yasmin nasceu, ela ficou fascinada. (...) Ela demonstrava um amor pela menina, como também gostava da Letícia, da Ana Laura [suas outras filhas]”, diz Edna.
Os pais afirmam que a funcionária pública se aproveitou da proximidade da família para, aos poucos, levantar elementos para concretizar a adoção - o laudo expedido pelo Conselho Tutelar que baseou a primeira decisão, mais tarde, foi questionado por documento similar, segundo advogado da família. Intenção que os pais alegam terem percebido somente às vésperas de perderem a guarda da filha, em uma das vezes em que foram buscar Yasmin na casa da madrinha. “Ela disse: 'eu passo por cima de qualquer um de vocês. Ela já era minha filha na outra geração, não vou devolver para vocês'”, relata Marioto.
Segundo ele, fotos das idas à casa de Rosângela, acesso à certidão de nascimento e uma matrícula em uma escola particular reforçaram as alegações de Rosângela perante o Conselho Tutelar. Edna confirma ainda que, em nenhum momento antes da sentença em primeira instância, teve chance de se defender em juízo.
A empregada doméstica diz ainda se lembrar do dia em que a Polícia Civil cumpriu o mandado de busca em sua casa e levou, em definitivo, sua filha, mesmo após seu apelo. “A Yasmin segurou nas minhas pernas, o policial veio e falou que eu a tinha sequestrado. Eu falei que a filha era minha, peguei a certidão e tudo.”
Criança está bem, diz advogado
Ao contrário do que informou a família, o advogado de defesa de Rosângela, Guilherme Gilbertoni Anselmo, afirma que a criança está aos cuidados da funcionária pública desde quando tinha nove meses e que, na verdade, foi abandonada pela própria família. “A criança foi entregue em péssimas condições de saúde, em condição de abandono. Foi constatado isso através do Conselho Tutelar”, afirma.
Ele argumenta que não tem autorização para divulgar onde está Yasmin e sua madrinha, mas alega que ela está bem e que a viu há uma semana. Também informou que ela está tendo aulas com a própria Rosângela.
O advogado explicou ainda que não vê no desaparecimento de sua cliente um caso de desobediência à decisão expedida há um ano e meio pelo TJ-SP revogando a adoção para Rosângela. Ele diz que aguarda a possível emissão de um efeito suspensivo para o acórdão.
G1