Único filho de Candido Portinari (1903 – 1962), João Candido se emocionou ao ver de perto uma obra recentemente descoberta em Brodowski (SP) que pode ser de autoria de seu pai, mas pediu cautela na confirmação de sua autoria. No início desta semana, o professor visitou o Museu Casa de Portinari, após uma recuperação que durou dois anos, bem como a igreja matriz de Batatais(SP), onde 28 painéis que compõem o maior acerco sacro do artista plástico também passaram por restauro.
O ponto alto da visita no interior de São Paulo, na última segunda-feira (22), foi a observação de um afresco encontrado dentro da Casa de Portinari que pode ter sido feito pelo artista plástico antes de morrer. A pintura de uma mulher com uma criança nos braços, que deixou Candido surpreso, foi encontrada embaixo de quinze camadas de tinta, em uma parede onde ficava a varanda da casa.
De acordo com a equipe que se envolveu no restauro do museu e encontrou o painel, a obra tem características típicas dos trabalhos de Portinari, como o tom azul na roupa da mulher. “Acho que a palavra que pode resumir isso tudo é emoção. Fiquei muito emocionado, porque embora eu tivesse uma expectativa de encontrar um trabalho muito competente, muito cuidadoso, foi muito além da minha expectativa, fiquei literalmente de queixo caído”, afirmou o filho do artista plástico após sua passagem pelo interior de São Paulo.
Diante do afresco, Candido fez associações que podem contribuir para desvendar o mistério em torno de sua autoria. Uma delas foi com uma fotografia, hoje em exposição no museu, tirada por um americano amigo de seu pai em 1941 de toda sua família no mesmo cômodo em que a obra foi encontrada. O registro mostra um quadro na parede próximo de sua mãe, no mesmo ponto em que foi achado o afresco. “Isso aqui é de antes de 1941 com certeza, porque aparece na foto dele. Tem tudo a ver. É um milagre uma coisa aparecer assim”, afirmou o visitante.
A cor azul dos olhos do menino no colo de uma mulher no afresco inédito – idêntica à de Candido – também alimenta as expectativas de que Portinari tenha, de fato, produzido o trabalho. “Aquele menino que está no colo tem feições realmente parecidas com este menino que está aqui.”
Ainda que emocionado com a visita, João Candido prefere não dar um veredicto. Ele confirma que, em vida, Portinari tinha o hábito de receber muitos amigos artistas em casa, o que aumenta as dúvidas.
“Seria muito precipitado de minha parte dizer qualquer coisa inclusive porque eu não tenho uma formação nessa área de autenticação de obras. Acho uma descoberta extraordinária, uma emoção imensa, você descobrir depois de tantos anos essa obra que aparece na fotografia daquele americano que esteve aqui com Portinari em 1941. (...) Tem que haver cautela, porque a gente sabe que, dentre todas as obras que estão aqui no museu, nem todas são dele, havia outros artistas que vinham, amigos e até parentes que pintaram nas paredes.”
Autoria em apuração
Segundo Angélica Fabbri, diretora da Casa de Portinari, apesar da expectativa em torno da possível autoria do quadro, ainda é prematuro afirmar se a obra, de fato, foi elaborada por Portinari. As investigações, de acordo com ela, foram recentemente iniciadas.
“Formamos uma comissão para que a gente faça todas as investigações do ponto de vista da obra em si, a constituição dela, materiais pictóricos, as técnicas e a expertise do projeto Portinari, os traços, aquilo que é de fato característico da obra de Portinari. Essas pessoas já estão trabalhando na pesquisa e vamos ver quando teremos uma definição para atribuir ou não a autoria”, disse.
G1