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Professora obesa desiste de vaga e vai processar o Estado por danos morais
Notícias Região
Publicado em 15/10/2014
A professora de Araraquara (SP) impedida de assumir o cargo após passar em um concurso público decidiu desistir da vaga e processar o Estado por danos morais. Ana Carolina Buzzo Marcondelli foi impedida de assumir o cargo para o qual passou em 15º lugar por ser considerada obesa mórbida. Há sete meses ela tenta assumir o posto e mostrar ser apta a lecionar, mas, ficou desestimulada com as barreiras. “Adoro minha profissão, mas ainda estou recolhendo os cacos que esta história causou em mim”, comentou.
A bióloga de 30 anos foi considerada acima do peso pelos exames do Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) e recorreu do resultado, mas as respostas não foram diferentes. Na Justiça, ela também não conseguiu uma liminar para ocupar o cargo. “Ele pediu um posicionamento do Estado para o meu caso e eles afirmaram que eu era hipertensa, o que eu não sou, e que por isso não era um direito meu ocupar a vaga, já que seria doente. Assim, pediram para o juiz extinguir e ele extinguiu”, contou.
 
Recentemente, a advogada da professora entrou com uma nova ação. O recurso será julgado no dia 21 de outubro pelo Tribunal de Justiça. “Haverá uma audiência com plateia e aí terei que fazer tudo de novo, passar pela perícia e me expor ainda mais. Do jeito que vejo as coisas acho que a resposta será negativa de novo. Mesmo assim entrarei com um processo por danos morais”, disse Ana. Ela também diz estar desmotivada, mas ainda vai investir na história apesar de não ter mais interesse no cargo.
 
Atualmente, Ana trabalha como professora substituta em uma escola estadual em Américo Brasiliense (SP) e também em uma universidade de Araraquara (SP). “Depois de dezembro estou pensando em fazer doutorado e focar em ser somente professora universitária. Não quero mais trabalhar com educação no 1º grau, fico a mercê de um professor pedir licença ou não para poder trabalhar sendo que eu podia estar preenchendo minha vaga e fazendo um trabalho legal. Infelizmente, por estética, fui impedida”, falou.
Quando perguntada sobre o peso e sobre a possibilidade de emagrecer para preencher o cargo, Ana nega. “Não fiz dieta e nem nada. Já cuido do meu corpo, faço exercícios, mas para melhorar a minha saúde e não por causa da vaga. Estou deixando acontecer”, concluiu.
 
O caso
A professora passou no concurso para lecionar ciências e biologia em Matão (SP). Em fevereiro ela fez os exames e, em março, recebeu o resultado de que não poderia assumir o cargo por ser considerada obesa mórbida pelo médico perito. Ela entrou com recurso e foi considerada inapta novamente em Abril. No mesmo mês, Ana entrou com um segundo recurso, que também foi negado.
 
No primeiro exame, com 1,65 m e 117 quilos, o Ìndice de Massa Corporal (IMC) de Ana foi de 43. O número é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como obesidade mórbida, já que o limite é de 40. "Não é necessário ser magra seguindo os padrões de beleza. É preciso ter capacidade intelectual", disse.
Durante três anos, Ana deu aula para alunos de 11 a 15 anos, mas parou ao saber que havia passado no concurso prestado em novembro do ano passado.  De acordo com ela, a prova foi extremamente difícil. "A primeira parte era pedagógica, tinha questões abertas e questões de múltipla escolha. À tarde, foi realizada uma prova específica para cada cargo” relembrou.
“Já me senti extremante brava, humilhada, mas hoje eu dou risada porque é ridículo. Eles estão me impedindo de assumir uma coisa que eu já sou. É ridículo a gente ter que entrar na Justiça para assumir um cargo. Eu já deveria estar dando aula como efetiva desde março na escola em que escolhi”, reclamou.
Em nota, o Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME) informou que segue critérios técnicos e científicos previstos no Estatuto dos Funcionários Públicos e que Ana, além de ser obesa mórbida, tem outros problemas de saúde.
 
G1
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