A crise no setor da borracha, puxada pela queda no preço do látex, leva produtores da região de Ribeirão Preto (SP) a reduzirem a produção e demitir funcionários. Para tentar reduzir os efeitos do problema, foi fundada na semana passada em Barretos (SP) uma associação que cobra políticas de incentivo do Ministério da Agricultura. Procurada pela reportagem do G1, a pasta informou que o assunto é debatido em uma câmara setorial e que leilões são feitos para o que o produto seja vendido a um preço maior que o do mercado, como medida emergencial.
Com 300 produtores e um total de 7 milhões de seringueiras plantadas, Barretos é a segunda maior produtora de borracha do Estado de São Paulo, que corresponde a 56% da produção nacional, segundo o Ministério da Agricultura. Apesar disso, os produtores alegam que há uma competição desleal com o mercado internacional, que reduz o preço do látex. A média do quilo do coágulo retirado das árvores é atualmente R$ 1,50 e era de R$ 2,20 no ano passado e chegou a R$ 4,20 há cinco anos.
“O problema é que temos uma borracha muito barata sendo produzida no sudeste asiático, principalmente na Indonésia e Vietnã, que vem para o Brasil com baixo custo porque lá o custo salarial é menor”, afirmou o produtor Paulo Fernando de Brito, integrante da Associação Brasileira de Produtores de Látex (Apotex). O látex brasileiro tem 12% de taxação com ICMS, enquanto a borracha asiática tem imposto de 4%, e tem custo de R$ 0,90, segundo a associação.
Demissões
A situação fez com que a fazendeira Teresa Márcia Morais reduzisse o número de funcionários nos seringais que mantém em Barretos e em Goianésia (GO). No interior de São Paulo, ela mantinha 12 sangradores para extrair a matéria-prima de 26 mil árvores de sua propriedade, agora oito cuidam da produção e quatro cumprem aviso prévio. “Se o preço não tiver uma melhora nos próximos meses nós vamos parar nossa produção, vamos dispensar todos os outros funcionários”, disse.
Um dos funcionários mantidos na fazenda reclama da situação, mas ainda assim diz que não se arrependeu de ter abandonado a agropecuária para entrar no ramo da heveicultura. “É melhor porque não tem que trabalhar no sol, a gente trabalha na sombra o dia todo e não é um serviço tão pesado”, disse o sangrador Devanildo Sebastião da Silva.
Para tentar conter os reflexos da crise, produtores se uniram em Barretos e pretendem com a fundação da Apotex cobrar medidas que incentivem a compra da borracha brasileira. O material é usado principalmente pela indústria automobilística. “Temos uma cultura que é desunida e nunca se organizou, nunca tivemos uma associação só de produtores e estamos sem representatividade”, afirmou o produtor José Jacintho Sobrinho.
Análise
Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Matheus Kfuri Marino, há excesso de oferta de borracha no Brasil e falta normatização do trabalho e da produção de látex. “O setor, com ajuda do governo, deve investir em tecnologias para ganho de produtividade, especialmente a redução do início da sangria nos seringais”, comentou.
A safra das seringueiras ocorre entre setembro e junho e normalmente os produtores aguardam sete anos para iniciar a sangria do látex. “A sugestão é de que se investissem em tecnologias com adubação, irrigação, com uso de agroquímicos para reduzir, por exemplo, de sete para quatro anos e com isso ganha em eficiência e reduz o custo de produção e o preço do mercado passa a ser interessante para o agricultor”, explicou.
Segundo Marino, o investimento em seringais é de longo prazo e a crise enfrentada atualmente é motivada por um período de euforia, há quatro anos. “Como o mercado passou por um longo momento de preços interessantes, houve investimento em ampliação de produção, de 2006 a 2012 a produção quase duplicou, e o que acontece é que só hoje esses seringais entraram em produção, e mesmo que o preço esteja baixo, o produtor tem que continuar investindo na atividade”, disse.
Ministério da Agricultura
Procurado pela reportagem do G1, o chefe da divisão de políticas agrícolas do Ministério da Agricultura, Gustavo Firmo, informou que medidas emergenciais foram tomadas para conter a crise de preços no setor de borracha. Um leilão ocorreu na sexta-feira (21) e o governo ofereceu R$ 2 como preço mínimo pelo látex, valor maior que o pago pelo mercado pelo quilo do coágulo.
"O setor tem um cenário de crise de preço e uma perspectiva de preço baixo pelos próximos dois anos e a medida é emergencial, não pretendemos resolver o problema de preço com esse mecanismo, porque é formado no exterior, é uma crise de preço mundial. Esse apoio é emergencial, para manter o produtor no campo", disse Firmo. O leilões de borracha natural abrangem produtores paulistas, mineiros, de Goiás, Mato Grosso e Bahia.
G1