Três dias após o mega-assalto a uma empresa de transporte de valores em Ribeirão Preto, o Ministério Público de São Paulo pediu à Prefeitura e à Câmara Municipal que não autorizem mais o funcionamento de estabelecimentos desse tipo no perímetro urbano.
A Prosegur não informou o valor roubado pela quadrilha na madrugada de terça-feira (5). Em relação à estrutura física da unidade, a empresa comunicou, em nota, que “aguarda o resultado de perícia técnica e, com base no laudo oficial, tomará as medidas cabíveis.”
Também em nota, a Prefeitura de Ribeirão informou que ainda não teve conhecimento do teor do pedido. "Somente após analise da solicitação, será possível manifestação sobre o assunto", diz o comunicado.
Em ofício encaminhado à administração municipal, o promotor Naul Felca lista oito justificativas para a criação de uma lei nesse sentido, entre elas a de que empresas de valores colocam os moradores da vizinhança em risco.
“Essas empresas, quando tomam a liberdade de funcionar dentro do âmbito urbano, acarretam o deslocamento desse comboio de criminosos por toda a cidade, o que colocou em risco as áreas do entorno, a população como um todo”, diz o promotor.
No documento, que também foi enviado ao Ministério Público Federal, ao Ministério do Trabalho e Emprego, às policias Civil e Militar e à Promotoria de Justiça da Habitação e Urbanismo, Felca ainda classifica o prédio como inadequado para o trabalho a que a empresa se propõe.
O promotor destaca que a Prosegur funcionava em um galpão com reforço estrutural apenas do cofre, e que somente um funcionário fazia a segurança do local no período noturno, ou seja, não havia "plano de contingência" em caso de ação criminosa.
“Essa empresa é de transporte de valores, mas não foi isso que ela estava fazendo. Ela estava fazendo a guarda de valores ali dentro, então temos que ver se ela estava desenvolvendo suas atividades em consonância com o teor do alvará administrativo que foi expedido”, acrescenta.
Nesse sentido, ainda de acordo com Felca, a Prosegur pode ser corresponsabilizada no âmbito cível e criminal, na medida em que não oferecia segurança aos próprios trabalhadores e nem aos moradores.
"Independente de cobrar uma posição da empresa, que tem a obrigação de entender que, uma vez desenvolvendo atividade de risco, deve saber suas responsabilidades, a Prefeitura, antes de tudo, permitiu o funcionamento dessa empresa dentro da área urbana", completa.
Ataque planejado
O assalto ocorreu por volta de 4h30 de terça-feira no prédio da Prosegur, na Avenida Saudade, zona norte da cidade. Segundo o tenente da PM Tiago Pedroso, viaturas faziam patrulhamento quando se depararam com o comboio formado por 15 carros e um caminhão.
A quadrilha bloqueou as ruas de acesso à avenida usando veículos e espalhou pregos pelas vias para dificultar a aproximação da polícia. Em seguida, atirou contra o transformador de energia, deixando 2,2 mil imóveis e as ruas do bairro Campos Elíseos no escuro.
Houve troca de tiros entre suspeitos e policiais por ao menos 40 minutos. A PM informou que o grupo estava fortemente armado com diversos calibres, desde pistolas até fuzis 556, 762 e ponto 50, munição capaz de derrubar aviões.
O grupo realizou três explosões para acessar o cofre, o que afetou a estrutura de imóveis a 100 metros de distância. O diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter 3), João Osinski Junior, disse que a quadrilha estava preparada para enfrentar um batalhão.
Mortes
Na fuga, três carros utilizados pela quadrilha foram queimados. Um homem que, segundo a Osinski Junior, era morador de rua, foi usado como escudo. Ubiratan Soares Berto, de 38 anos, morreu devido à gravidade das queimaduras sofridas.
Parte do grupo seguiu pela Rodovia Anhanguera e atirou contra a viatura onde estavam o cabo Tarcísio Wilker Gomes, de 43 anos, e um colega. Gomes foi baleado na cabeça e morreu. O policial foi enterrado no mesmo dia, em Batatais.
A polícia também apura se um um homem achado morto na quarta-feira (6) no Rio Pardo, em Ribeirão Preto, foi assassinado pelos assaltantes da Prosegur. Ele seria a terceira vítima do mega-assalto.
Investigação
Sete dos 15 veículos usados no ataque foram encontrados na tarde de quinta-feira (7) em um canavial em Jardinópolis. Dentro dos carros blindados foram encontrados carregadores de submetraladoras e fuzis, além de munições.
Marcas de mãos foram encontradas no vidro de um dos veículos e as impressões digitais encontradas também no interior dos carros e dos objetos deixados pelos suspeitos serão analisadas em um banco de imagens com mais de 10 milhões de imagens.
O secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, que esteve em Batatais onde o corpo do policial morto foi enterrado, disse que prender os suspeitos é uma questão de honra para o estado.