Julgamento ainda não aconteceu e demora deixa famílias mais angustiadas. 'Só queremos justiça', diz mãe de uma das vítimas de acidente em Ibitinga.
Dois anos após o acidente de trânsito entre um ônibus e um caminhão, que transportava óleo vegetal, na Rodovia Leônidas Pacheco Ferreira (SP-304), em Ibitinga (SP), que matou treze pessoas entre estudantes e professores de uma escola de Borborema,em 2014, as famílias das vítimas ainda buscam por justiça.
O inquérito policial foi concluído e os dois motoristas foram indiciados por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. O julgamento ainda não aconteceu e a demora na Justiça deixa as famílias mais angustiadas. "Estamos destruídos, apenas sobrevivemos. Eram crianças e professores especiais, a gente só clama por justiça. Espero acreditar na justiça dos homens”, diz a funcionária pública Ester Gonçalves Oliveira Rossi, mãe de uma das vítimas de 17 anos.
O Ministério Público também faz uma investigação paralela para saber se a falta de sinalização da pista e o estado de conservação da rodovia contribuíram para a tragédia. Segundo a Polícia Rodoviária, depois que as obras terminaram, o número de acidentes diminuiu bastante. Em 2014, ano da tragédia, foram registrados 99 acidentes com 21 mortes. Em 2015, foram 60 acidentes e duas mortes. Neste ano, já com a rodovia liberada, uma pessoa morreu e o total de acidentes caiu pra 41.
A mãe de uma das vítimas, Cássia Aparecida Francisco, conta que ainda tenta se recuperar desde o acidente. “Eu acho isso um absurdo, eles têm que pagar pelo erro que fizeram. A gente só quer justiça, não quer mais nada, só queremos justiça. Minha vida é só chorar, ficar isolada. De certa forma vai trazer alívio, a gente vai saber que existe justiça no Brasil, se não a gente vai ter um sentimento de perda maior, eles tão aí vivendo a vida deles normal, e a gente nunca mais vai ter uma vida normal, nossa vida acabou", conta.
A aposentada Leonilda de Lourdes Torquete Lucas perdeu de uma só vez a filha Margarete Aparecida Lucas dos Santos, 44, que era professora, e o neto Leonardo Lucas dos Santos, 17.
"Dois de uma vez é muito terrível, estou viva por fora, por dentro estou morta. A vida acabou, não tem como recuperar, a gente se apega em Deus para recuperar, é muito triste ver minhas netas e lembrar que elas perderam a mãe. A gente queria justiça, teve imprudência, ninguém é julgado, ninguém vai ser condenado, ninguém perdeu a carta, dói muito”, afirma.
O acidente aconteceu quando os estudantes da Escola Estadual Dom Gastão Liberal Pinto voltavam de uma excursão em São Paulo. O impacto foi tão forte que o ônibus teve a lateral arrancada. Os passageiros foram arremessados na rodovia. Sete estudantes e três professores morreram no local do acidente, além da diretora da Escola Municipal Ana Rosa, que acompanhava dois filhos no passeio. No dia 30, outras duas vítimas, que estavam internadas na UTI do Hospital de Base de Bauru (SP), morreram.
Além das mortes, 24 pessoas ficaram feridas. O caminhão, que transportava óleo vegetal, pegou fogo com a batida, que foi controlado duas horas depois pelas equipes do Corpo de Bombeiros.
Nesta semana, parentes das vítimas voltaram à praça onde os estudantes e professores se reuniram antes de sair para a excursão há dois anos. Algumas pessoas, como a aposentada Rita de Cássia Pazini de Freitas, mãe do Nicanor, 17, nunca mais tinham voltado ao local. “É muito doloroso. Foi aqui que eles saíram felizes da vida para essa viagem. Eu nem mais passava nessa praça, hoje está sendo o primeiro dia, é muito revoltante."
No local onde o ônibus e o caminhão se chocaram, as famílias das vítimas fizeram um memorial para lembrar cada pessoa que perdeu a vida nesse acidente. Além de uma homenagem é uma forma de não deixar essa tragédia ser esquecida. "A gente quer justiça e que não caia no esquecimento. Não é fácil, tanto acidente acontece, tanta coisa e a gente vê que não resolve, fica esquecido, e a gente está brigando por isso, a gente quer que não caia no esquecimento, mais um acidente que fica esquecido", explica a dona de casa Sueli Rodrigues, que também perdeu a filha Gabriela de 17.
A Polícia Civil fez duas perícias pra apurar as causas do acidente. Foi concluído que a batida aconteceu na faixa em que o caminhão seguia, e o motorista do ônibus é quem teria invadido a contramão. Na época do acidente, a rodovia passava por obras e não havia sinalização na pista, apenas algumas placas indicando o limite de velocidade de 60km/h.
"O principal fator é imprudência dos condutores, não respeito à legislação de trânsito, excesso de velocidade e embriaguez. Muito diferente, na data do acidente estava em obra, só tinha sinalização da obra, não tinha terceira faixa, não tinha radar, realidade diferente da época do acidente", explica o tenente Antônio Carlos Pilon.
O Departamento de Estradas e Rodagens (DER) informou que todos os esclarecimentos já foram prestados à Justiça e agora aguarda a decisão judicial.
Relembre o caso
Um ônibus foi atingido de frente por uma carreta na Rodovia Leônidas Pacheco Ferreira (SP-304), em Ibitinga (SP) no dia 27 de outubro de 2014. O impacto foi tão forte que o ônibus teve a lateral arrancada.
Os passageiros foram arremessados na rodovia. Sete estudantes e três professores morreram no local do acidente, além da diretora da Escola Municipal Ana Rosa, que acompanhava dois filhos no passeio. No dia 30, outras duas vítimas, que estavam internadas na UTI do Hospital de Base de Bauru (SP), morreram.
Além das mortes, 24 pessoas ficaram feridas. O caminhão, que transportava óleo vegetal, pegou fogo com a batida, que foi controlado duas horas depois pelas equipes do Corpo de Bombeiros. Os estudantes e professores da Escola Estadual Dom Gastão Liberal Pinto saíram de Borborema para participar de uma excursão, onde conheceram pontos turísticos de São Paulo. Borborema tem aproximadamente de 15 mil habitantes. Por conta do acidente, a prefeitura decretou luto oficial de três dias. (G1)