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Projeto de estudantes de Bauru sobre moradoras de rua recebe prêmio universitário
Notícias Região
Publicado em 12/12/2017

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Estudantes de Bauru foram premiadas na categoria "Multimídia" (Foto: Alice Vergueiro / Divulgação)

Um projeto que traz relatos sobre a violência sofrida pelas mulheres em situação de rua, feito por estudantes de comunicação social da Unesp de Bauru (SP), conquistou uma das categorias do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão.


As universitárias Ana Carolina Moraes e Daniela Arcanjo Rodrigues desenvolveram uma matéria multimídia, chamada de "Marias das Ruas", e contam tiveram a ideia a partir de um jornal comunitário desenvolvido juntamente com a população em vulnerabilidade social da cidade.

"A partir do tema proposto [Sob a ponta do iceberg: Revelando a violência contra as mulheres que ninguém vê], percebemos que o gancho casava justamente com as pessoas da rua, as quais já representam uma camada invisível da sociedade. Dentro do projeto, porém, ainda a gente não tinha esse olhar sobre a mulher”, relata Daniela.

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Objetivo das estudantes foi dar voz a essas mulheres em situação de vunerabilidade (Foto: Reprodução / Maria das Ruas )

O ponto que serviu para a problematização veio da dificuldade em conhecer mais ou se aproximar das mulheres em situação de rua. “Nas matérias, por conta da violência sofrida, elas demonstravam na maior parte das vezes um comportamento arredio. Todas essas inquietações contribuíram com a matéria", explica Daniela.

Nas incursões sobre o problema, as estudantes se depararam com várias situações as quais as mulheres em situação de vulnerabilidade vivenciam rotineiramente, como abusos e agressões como descreve Daniela. “O que a gente mais percebia era a questão da subordinação da mulher ao homem. Ao apresentar a ideia de fazer uma matéria, por exemplo, a mulher se animava, aí falava com o parceiro e depois desconversava”.

“Existe uma questão de gênero já na ida da mulher para a rua, pois elas muitas vezes possuem um histórico de abuso doméstico, até na questão da maternidade, já que sequer elas têm a oportunidade de serem mães, já que seus filhos são retirados assim que a Justiça percebe que a mulher vive em situação de vulnerabilidade social”, argumenta Daniela Rodrigues.

Durante a produção da matéria multimídia, as estudantes entrevistaram 44 pessoas, sendo 76% mulheres. Além disso, foram também foram entrevistados vários especialistas em Direito, principalmente no que se refere a questões de gênero, maternidade e sociedade.

“Optamos muito por falar com mulheres, pois já é uma pauta que possui um recorte de gênero. A rua é uma situação transitória. A mulher tem uma história antes de ir para a rua, o durante e até o depois”, relata a estudante Ana Carolina Moraes.

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Reportagem buscou retratar as histórias das mulheres que vivem nas ruas (Foto: Reprodução/ Maria das Ruas )

Entre as histórias apresentadas, está o relato de uma moradora de rua que ficou grávida pela primeira vez aos 13 anos e decidiu fugir do ex-companheiro, 11 anos mais velho, após vários episódios de agressões, e também a história de uma ativista pelo direito das mulheres que é conhecida como “poetisa das ruas”.

No cronograma do prêmio, as estudantes tiveram cerca de dois meses para colher informações, entrevistas, produção dos vídeos, montagem do site e elaboração das matérias.

“Buscamos mostrar que ninguém vai pra rua porque quer, mas é uma opção em meio a tantas violências e negações as quais as mulheres são submetidas”, conta Ana Carolina Moraes.

A universitária explica que a maior parte do trabalho foi nos próprios locais. “Nosso foco não era fazer uma espetacularização da pobreza. Todos os registros foram consentidos com as mulheres, buscamos ter esse cuidado, nem ser invasivo”.

Neste sentido, ambas acreditam que o resultado final pode ser um instrumento para aproximar as pessoas com o tema e trazer empatia com as mulheres e suas trajetórias, principalmente pela veiculação na internet e via redes sociais. Até o momento, os vídeos de divulgação da reportagem já foram vistos por mais de 10 mil pessoas.

“Buscamos tratar as mulheres não somente como pessoas que moram na rua. Elas não são simplesmente pessoas que nasceram ali, mas que foram parar em uma situação de vulnerabilidade por conta de uma trajetória de violações e encontram os mesmos abusos na rua”, completa Daniela.

 

Do G1

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