‘O tempo não para” nem mesmo para Cazuza, imortalizado na história da música brasileira e um dos autores da emblemática canção. O cantor e compositor, que faria 60 anos hoje, continua atual em suas letras, novo para as gerações que seguem e certeiro ao prever, infelizmente, o museu de grandes novidades ainda de portas abertas. Batizado Agenor de Miranda Araújo Neto, o ex-vocalista do Barão Vermelho morreu aos 32 anos por complicações da Aids, há 28 anos. Mas, como ideologias não faltam enquanto houver amor nessa vida, ele continua mais vivo do que nunca e festejado por amigos e fãs.
— As pessoas que deixam o que ele deixou para o país não morrem. Esse legado não conforta uma mãe. Mas, para mim, como ser humano, consola — diz Lucinha Araújo, mãe do artista, que será homenageado, nesta quarta-feira (4), no Circo Voador, com show reunindo Rogério Flausino, Wilson Sideral, Caetano Veloso, Bebel Gilberto e Preta Gil. A renda será revertida para a Sociedade Viva Cazuza. Já no próximo dia 27, a festa é no Vivo Rio, com Leila Pinheiro, Roberto Menescal e Rodrigo Santos.
Apesar de curta, a vida de Cazuza foi marcada pela intensidade e produtividade artística, até hoje redescoberta. Anos após sua morte, canções inéditas dele foram reveladas e entregues a compositores para serem musicadas. Na lista, Xande de Pilares, Caetano Veloso, Leoni... Até o fim do ano será lançado um CD com parcerias póstumas.
— Ele seria de vanguarda até hoje. Só acho que poderia ser menos doido para não me levar à loucura como me levava (risos) — brinca Lucinha, produtora do disco.
— O que ele falou o tempo todo é a vida da gente, cara! Gostaria de dar a ele um mundo compreendido como sempre quis”, diz Sandra de Sá, que teve o filho, Jorge, batizado pelo cantor: — Te falar que nessa altura da vida, acho que ele teria um bar onde a nossa galera ia se reunir pra caramba.
— Ele tinha o espírito livre demais. Nada era pela metade. Cazuza vivia a vida com muita intensidade... Queria música, festa, prazer — recorda Frejat, parceiro musical e de grupo.
De uma outra formação do Barão, o baterista Rodrigo Santos entrega:
— A trilha sonora de qualquer festa onde estivesse Cazuza seria meio bossa nova, meio rock n´roll. Ele tem os dois lados! Se pudesse, eu daria para ele de presente uma canção, cara. A última vez em que eu estive com ele foi casa do Lobão, um pouco antes de ele morrer. A gente ensaiava lá, e Cazuza sempre aparecia porque gostava de dar uns mergulhos nas cachoeiras do Alto da Boa Vista. Se ele estivesse vivo, diria que o Brasil está careta e covarde.
Bebel Gilberto e Cazuza são autores de 'Preciso dizer que te amo' Bebel Gilberto e Cazuza são autores de 'Preciso dizer que te amo' Foto: arquivo
— Se eu pudesse, daria o novo disco do David Byrne pra ele. Penso até que Cazuza celebraria o aniversário no Morro da Urca, com Don Pepe como DJ e amigos dos anos 1980”, projeta Bebel Gilberto, parceira com ele e Dé em “Preciso dizer que te amo”.
— Ele se foi cedo demais para quem gostava muito da vida e tinha tanto por fazer. Certamente, seria a voz presente e indignada de todos nós nesse mundo caótico — aposta Leila Pinheiro: — Me lembro que nos encontramos pela última vez na TV Manchete, em 1986, quando participávamos do programa "Um toque de classe", e eu cantei e toquei "Todo amor que houver nessa vida". No final da música, ele entrou no palco, abriu um sorriso lindo e me abraçou forte... feliz com a minha versão de piano e voz.
— Cazuza e sua obra foram fundamentais na formação intelectual de muita gente. Estamos ansiosos e honrados com a homenagem — valoriza o cantor Rogério Flausino.
— Lembro bem da alegria, a maneira brincalhona de ser, de como ele era divertido. Cazuza respirava as ruas, misturava tudo, não tinha preconceitos e, por isso, era genial — considera Preta Gil, que recorda sua relação com o homenageado: — Eu convivi com Cazuza bem nova por conta da minha família, que se relacionava com a dele... Eu também já saia com os adultos apesar da nossa diferença de idade. Frequentava a pizzaria Guanabara e Real Astoria no Leblon, e meu primeiro marido, Otávio Müller, era primo dele. Isso fez a gente estar próximo. Acho que, se ele estivesse entre nós, faria uma festtona para celebrar os 60 anos tocando de tudo: tropicália, MPB, funk carioca e, claro, muito rock. Um presente? Acho que daria uma jaqueta jeans que ele pudesse usar bastante e não tirasse do corpo. O jeans não saiu de moda e era a cara dele. (Observatorio da TV)
Serviço:
Flausino e Sideral cantam Cazuza
Circo Voador: Rua dos Arcos s/nº. Quarta-feira (4), às 22h. R$ 100 (inteira) e R$ 50 (com 1kg de alimento). 18 anos.
Tributo a Cazuza em bossa nova
Vivo Rio: Av. Infante Dom Henrique 85, Parque do Flamengo. Dia 27/04, às 22h. R$ 100. 18 anos.