Uma pichação com ofensas racistas em um dos banheiros femininos da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) causou polêmica entre os estudantes. "Negrada vai morrer. Bolsonaro 17", foi a mensagem que alunas encontraram estampada na parede do local.
Rapidamente, a pichação causou revolta nas redes sociais. Uma das alunas disse que recebeu a foto em um grupo de amigos, e quando foi comprovar se a pichação era verdade, se surpreendeu. "O clima está tenso por conta de tudo que está acontecendo. Estou assustada por saber que pessoas próximas ainda têm pensamentos preconceituosos", disse a estudante.
A segurança de amigos também tem preocupado outro estudante, que também manteve-se no anonimato. "Há uma onda de intimidação pelo País e aqui não é diferente. Porém, seguimos firme no que acreditamos: a democracia, respeito e direitos humanos", afirmou o aluno.
Outra aluna da instituição disse que a situação é grave, principalmente pelo preconceito velado.
"Racismo existe sim e está acontecendo toda hora. Sou branca, e nem faço ideia de como um negro deve ter se sentido com uma mensagem desta na universidade, local que na teoria deveria ser um lugar seguro para os alunos se sentirem à vontade. A empatia cabe em qualquer lugar e falta um pouco disso no mundo. É o meu dever, não só como aluna que despreza uma atitude dessa, mas como cidadã, lutar contra isso e fazer com a faculdade seja um lugar de diversidade, tolerância, amor e respeito acima de tudo", disse.
Repercussão
Várias manifestações contra a pichação foram comentadas na publicação. Um dos alunos questionou a ação da universidade. "Não tolerar eu também não tolero, mas quais providências serão tomadas? Sei que é difícil encontrar a pessoa que pichou "Negrada vai morrer" no banheiro, mas o que faremos além de uma postagem no Facebook? Uma campanha de conscientização? Aulas sobre isso? Palestras? Enquanto aluno, me coloco a disposição para ajudar a Unaerp no que for preciso em ações práticas. Porque de textão no Facebook já bastam os meus".
Combate ao preconceito
Edevilson Juri, ator e estudante de Serviço Social, na Unaerp, de 26 anos, disse que a instituição deveria tomar ações de conscientização e repúdio a atos desse porte. "Tem que trazer para dentro das salas de aulas, pelos professores. Organizar um evento que trate assuntos deste contexto, para falar sobre isso e discutir", afirmou. Além disso, também afirmou ser extremamente importante discutir sobre o momento atual do País.
"Muitos atos banais estão ocorrendo por falta de consciência e informação do que a atual conjuntura política representa na vida da sociedade civil, à frente dos principais movimentos sociais, como o Movimento Negro, LGBTQI+ e Feminista", disse. "É de extrema importância discutir sobre o conservadorismo e o momento em que vivemos", afirmou. O que diz a instituição
A assessoria da Unaerp informou ao ACidade ON que a pichação foi apagada logo depois de ter sido denunciada a uma professora. A assessoria também disse que nenhum suspeito foi identificado, devido ao grande fluxo de pessoas que tem acesso a universidade diariamente. Mas a instituição irá colaborar para que o responsável seja encontrado.
Por meio de uma nota oficial em sua página das redes sociais, a Unaerp informou que repudia o ato da pichação. Na publicação, afirmou que a universidade preza pelos direitos humanos e pelo conhecimento como instrumento de promoção do desenvolvimento individual e social.
"Orientamos nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão para o a formação cidadã, humanizada e humanizadora, indispensável para a construção de uma cidadania plena, com respeito à democracia, às diversidades e ao meio-ambiente. Desta forma, repudiamos veemente qualquer manifestação de caráter sectário que possa colocar em risco os mais nobres valores humanos que nos guiam a um patamar mais elevado, onde prospere a paz, a benevolência e a evolução da civilização humana. A Universidade de Ribeirão Preto afirma que não será tolerada nenhuma manifestação discriminatória nas dependências deste campus universitário, pois aqui é o espaço sagrado do conhecimento, da ciência, da universalidade de ideias e do congraçamento de saberes. A educação é o espaço da irmandade próspera e generosa." Análise Ramon Faustino, professor da rede estadual de educação de São Paulo e militante do movimento negro de Ribeirão Preto, disse que o candidato à presidência Jair Bolsonaro, pode estar incentivando o ódio e o preconceito em relação as minorias, como as mulheres, LGBTs, negros e negras. "A mensagem escrita é uma expressão de racismo e preconceito mais cruel, porque ataca a existência das pessoas. Não é um racismo cultural, relacionado à estética, sendo mais violento, a partir das declarações, que estão vindo à tona. É uma herança da escravidão", disse.Para Camila Telles, atriz e também militante do movimento negro, a solução vem de uma roda de conversa e debate na universidade, além de identificar o autor da pichação. "São tempos difíceis", afirmou. (CidadeOn)