Conclusões parciais foram recentemente divulgadas após instalação de estações de monitoramento na cidade. Sismos de pequena proporção foram registrados a partir de 2016.
Após três anos de monitoramento, pesquisadores do Centro de Sismologia da USP apontam que os tremores de terra sentidos pelos moradores do Centro de Taquaritinga e do distrito de Jurupema têm relação com a perfuração de poços tubulares profundos para obtenção de água do subsolo.
A conclusão foi recentemente divulgada aos moradores, mas o acompanhamento segue em andamento com um total de oito estações instaladas no município até o fim deste mês, afirma José Roberto Barbosa, técnico do centro de estudos da USP.
Segundo ele, os estudos mostraram que a passagem de água facilitada pela intervenção humana ajuda a acelerar a liberação de tensões existentes entre as rochas de basalto, algo que naturalmente já acontece ao longo do tempo por diversos fatores.
"Essas falhas que existem no basalto ficam se atritando, raspando, coisa do tipo, estão lá forçando uma parte contra a outra, mas estão quietas, esperando um belo dia que não vão mais resistir e vão começar a escorregar. Aí começam os pequenos tremores, só que quando o homem perfurou, ele facilitou o trabalho de liberação das tensões", explica.
O mesmo tipo de ocorrência, de acordo com o pesquisador, foi registrado em Bebedouro, onde houve tremores de magnitude 2 em 2007. Apesar da possibilidade de acomodação do solo, ele não descarta a ocorrência de novos sismos.
Ele ainda alerta para os riscos de perfurações de poços não planejadas e para a necessidade de comunicação e outorga junto aos órgãos competentes.
O G1 contatou a assessoria de imprensa da Prefeitura de Taquaritinga para repercutir o resultado do estudo, mas não obteve resposta até sexta-feira (10). A reportagem também procurou o escritório do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) em Birigui (SP), responsável pela região de Taquaritinga e pelas outorgas das perfurações, mas ninguém falou sobre o assunto.
O monitoramento
Os primeiros abalos em Taquaritinga ocorreram em 2010, segundo a Defesa Civil. Em fevereiro de 2016, os tremores chamaram a atenção de quem vive no Centro e chegaram à magnitude de 2,1, considerados de pequena proporção. Um ano depois, o fenômeno assustou a população, mas no distrito de Jurupema.
"Segundo a população, havia uma relação entre a época do período de chuva e a ocorrência dos tremores", afirma Barbosa.
A primeira estação em Taquaritinga foi instalada em março de 2016. Desde então, esta e outras seis - uma oitava deve ser instalada em breve - acompanham os movimentos do solo no município e fornecem dados para a pesquisa da USP.
Ao analisar as informações, o grupo notou que os epicentros detectados estão próximos de poços, principalmente os que foram perfurados recentemente, segundo Barbosa.
"Os poços que estão causando esses tremores são poços recentes, de dois anos pra cá, poços novos, porque eles vão perfurando, encontrando lugares que estão tensionados e daí vem o tremor", afirma.
A perfuração, de acordo com o técnico, além de ajudar na fragmentação da cobertura rochosa de basalto, já naturalmente modificada por constantes movimentos, desgastes e acomodações, pode aproximar as fraturas decorrentes dessa dinâmica.
No período das chuvas, o nível dos lençóis freáticos se eleva e a água, ao se infiltrar no solo, lubrifica esses pontos de tensão das rochas, facilitando os sismos, de acordo com o técnico.
A mesma situação foi verificada anos antes pelo Centro de Sismologia em Bebedouro, que fica a 70 quilômetros de Taquaritinga e, assim como o município vizinho, tem inúmeras perfurações de poços impulsionadas pela atividade agrícola, explica o técnico da USP.
"A água começou a percolar por essas fraturas e nos locais que tinham tensões acumuladas ela agiu como se fosse um lubrificante. A água já começou a entrar, já lubrificou as duas partes da rocha, aí a rocha começa a escorregar, encontra facilidade para escorregar. Cada escorregão desse seria um micro-tremor, um pequeno tremor, em alguns casos até um tremor razoável", afirma.
Até hoje, o que se observou em Taquaritinga foram sismos pequenos, em sua maioria de magnitude inferior a 1, apesar da apreensão deixada nas pessoas.
"Os tremores começam a acontecer e as pessoas ficam assustadas. Não são tremores que vão causar grandes problemas, mas estão muito próximos do meio das casas, nos sítios, então as pessoas ficam preocupadas. Às vezes elas relatam que parece que está embaixo da cama", diz.
A expectativa, segundo Barbosa, é que os sismos parem com a acomodação do solo, mas não há garantias de que os tremores não voltarão a ocorrer. Enquanto isso, o grupo segue analisando o comportamento das vibrações.
"Nesse último ciclo de chuvas que estamos passando os tremores não aconteceram como em 2016, 2017. Pode ser que as coisas estejam se acalmando por lá, mas não sei. No ciclo de 2019, de repente, pode começar a tremer em outro lugar", afirma. (G1)