Paleontólogos da USP de Ribeirão Preto apontam a existência de um réptil do tamanho de uma lagartixa que teria vivido há 237 milhões de anos, na era dos dinossauros.
A espécie, agora nomeada como Clevosaurus hadroprodon, foi descoberta a partir de um fóssil encontrado há oito anos por pesquisadores no Rio Grande do Sul.
O exemplar é considerado o mais antigo que se tem conhecimento dentro da família esfenodonte, que hoje conta apenas com uma espécie viva, o Tuatara, que habita a Nova Zelândia em condições mais amenas do que as encontradas no Mesozóico, mas que está em risco de extinção.
A partir do estudo, os pesquisadores querem descobrir que fatores levaram à extinção das demais variedades dos esfenodontes.
"O que a gente percebe ao longo do mesozoico, essa grande era mesozoica, a era dos dinossauros, é que era o momento de aridez, de muito calor, de temperaturas elevadas e que de certa forma propiciou a diversificação desses grupos. Após essa extinção a gente não tem muitas outras evidências pra poder chegar a dados mais conclusivos. Provavelmente podem ter ocorrido alterações climáticas que ocasionaram uma extinção", afirma a pesquisadora Annie Schmaltz Hsiou.
Assinado por 11 pesquisadores, o artigo foi publicado este mês na revista Scientific Reports. A partir do fóssil - o fragmento de uma cabeça - encontrado em Candelária (RS), os paleontólogos conseguiram identificar que o Clevosaurus hadroprodon tinha em torno de 10 centímetros, bem menor do que espécies já identificadas na mesma região sul do país como o Pampadromaeus.
Esses répteis, segundo o estudo, habitaram a Gonduana, supercontinente que há 200 milhões de anos abrangeu territórios da América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida.
"Em algum momento eles se expandiram, habitaram a Gonduana e a Laurásia [supercontinente formado por América do Norte e Eurásia], mas essa espécie em si ficou pra cá", observa o pesquisador Silvio Onary.
Os dentes diretamente ligados aos ossos e com maxilares proeminentes, segundo Annie, dão pistas sobre como era o comportamento desse animal. "Temos uma interpretação que poderia ser usado pra defesa, competição, disputa de fêmeas, por território, por exemplo, como é visto em vários grupos hoje de répteis", explica.
Para o grupo, a descoberta do Clevosaurus hadroprodon representa um registro raro de um período em que o mundo tinha condições climáticas e geológicas muito distintas das atuais e que pode suscitar informações relevantes sobre a sobrevivência do Tuatara, na Nova Zelândia.
"Estudos posteriores ao nosso poderão esclarecer por que só hoje temos uma única espécie de esfenodonte conhecida. Hoje ele vive em um ambiente mais restrito, mais ameno, com temperaturas entre 21 e 23 graus. Só que no passado esses organismos estavam vivendo em um ambiente muito mais quente, muito mais árido, com temperaturas elevadas. Em algum momento perto da extinção dos dinossauros há mais ou menos 65 milhões de anos eles também foram extintos", afirma Annie.
EPTV