Algumas espécies de tubarão e outros peixes com gasto energético elevado serão prejudicados pela menor disponibilidade de oxigênio dissolvido na água, aponta estudo — Foto: Divulgação/IUCN/BBC
As mudanças climáticas e a chamada "poluição por nutrientes" estão reduzindo a concentração de oxigênio nos oceanos e colocando a risco a existência de várias espécies marinhas.
Essa é a conclusão de um dos maiores estudos já realizados sobre esse tema, conduzido pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) e divulgado neste sábado (7) na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 25, que está sendo realizada em Madri, na Espanha.
A poluição por nutrientes é conhecida há décadas e é apontada como um dos principais responsáveis pelo surgimento de "zonas mortas" nos oceanos - locais com concentrações tão baixas de oxigênio que praticamente inviabilizam a existência de vida.
Ela ocorre quando substâncias contendo elementos como fósforo e nitrogênio - usados em fertilizantes agrícolas, por exemplo - são arrastados da terra pela chuva para os rios e chegam ao mar. Ali, provocam o crescimento excessivo da população de algas, fenômeno batizado de eutrofização.
Quando esses organismos morrem, seu processo de decomposição consome oxigênio, diminuindo sua disponibilidade na água.
A mudança climática, por sua vez, tem agravado o problema: o aumento da temperatura da água é outro fator que contribui para a redução dos níveis de oxigênio.
De acordo com o estudo, cerca de 700 pontos nos oceanos vêm sofrendo com a redução da concentração de oxigênio. Na década de 1960, esse número não passava de 45.
O aumento das concentrações de gás carbônico na atmosfera intensifica o efeito estufa - os gases absorvem uma parcela da radiação que deveria ser dissipada para o espaço e a mantém dentro do planeta.
Os oceanos, por sua vez, absorvem parte do calor. E a concentração de oxigênio na água é sensível à temperatura: quanto mais quente, menor a concentração desse gás, que é fundamental para a manutenção de boa parte da vida marinha.
Mares com menos oxigênio favorecem a proliferação de águas vivas, mas são um habitat hostil para espécie maiores e que se movimentam rápido, como o atum.
Cientistas estimam que, entre 1960 e 2010, o volume de oxigênio dissolvido na água recuou em 2%. O percentual pode não parecer significativo, já que é uma média - em algumas regiões tropicais, entretanto, a queda chegou a 40%.
"Já conhecíamos o problema da redução da concentração de oxigênio, mas não sabíamos da ligação que ele tem com a mudança climática - o que é bastante preocupante", afirma Minna Epps, coordenadora da IUCN.
"E, mesmo no melhor cenário de redução de emissões (de gases de efeito estufa), o oxigênio nos oceanos vai continuar a diminuir."
Além do atum, algumas espécies de tubarão e o marlim-azul entram em risco nesse cenário.
Isso porque peixes maiores têm maior gasto energético - e, portanto, precisam de mais oxigênio para sobreviver.
De acordo com os autores do estudo, a situação atual tem feito com que esses animais se movimentem mais próximos da superfície do que de costume - onde há mais oxigênio dissolvido na água -, o que também os deixa mais vulneráveis para a pesca.
A estimativa é que, no ritmo atual de emissões, os oceanos terão perdido em média entre 3% e 4% do oxigênio por volta de 2100. A maior parte da perda esperada se concentra a até mil metros de profundidade - faixa que concentra maior biodiversidade.
A tendência é que o quadro seja pior nas regiões tropicais, onde as águas são mais quentes.
"A redução do oxigênio significa perda de habitat e de biodiversidade - e uma ladeira perigosa rumo a um oceano com mais lodo e mais águas vivas", destaca Minna Epps.
"Ela também pode alterar o ciclo energético e bioquímico nos oceanos - e não sabemos exatamente o que uma mudança como essa pode provocar."
"A depleção de oxigênio [termo técnico usado para descrever o processo] está ameaçando ecossistemas marinhos que já estão sob pressão com a acidificação e o aquecimento dos oceanos", acrescentou Dan Laffoley, coeditor do estudo e também membro da IUCN.
"Para barrar a expansão dessas zonas com baixa concentração de oxigênio [nos mares], precisamos de uma vez por todas frear as emissões de gases de efeito estufa, assim como a poluição por nutrientes, causada pela agricultra e outras atividades."
BBC