O Reino Unido tornou ilegal para as grandes empresas locais o uso de commodities provenientes de regiões afetadas pelo desmatamento, com produção que não esteja de acordo com as leis locais de proteção de florestas e outros ecossistemas naturais. Essa é uma das medidas incorporadas à Lei do Meio Ambiente, segundo o governo europeu informou nesta terça-feira, 10. Em agosto, planos para a incorporação de uma legislação mais restrita já tinham sido anunciados a fim de proteger as florestas tropicais.
As companhias britânicas também terão de fazer uma maior diligência prévia nos países importadores para identificar se a produção de insumos, a exemplo de cacau, borracha, soja e óleo de palma, contribuem ou não para a perda da flora. O Reino Unido importa mais da metade dos alimentos que consome e, embora em termos globais seja um consumidor relativamente pequeno de commodities florestais de risco, tem se importado com a questão.
A Tesco, maior rede de supermercado do Reino Unido, por exemplo, não se abastece de carne de vaca, galinha ou porco do Brasil, mas recusou-se a cortar laços com Moy Park e Tulip, empresas britânicas de produção de carne que são controladas pela JBS. Segundo a companhia, isso poderia levar à perda de milhares de postos de trabalho e prejudicar os agricultores locais.
"Nossa nova lei de diligência prévia é um componente de um pacote muito maior de medidas que estamos implementando para combater o desmatamento. Nossa intenção não é apenas adotar medidas domésticas de ponta, mas construir uma aliança global de países comprometidos em trabalhar juntos para proteger as preciosas florestas do mundo", disse Lord Goldsmith, ministro Internacional do Meio Ambiente.
Parte dessa preocupação vem também dos consumidores do Reino Unido, que não considerariam comprar carne de empresas que importam o alimento ligado à exploração agrícola em áreas que até recentemente eram cobertas pela floresta tropical amazônica. A mudança coincide com a publicação de um novo relatório que estabelece a abordagem do governo para conter o desmatamento ilegal e proteger as florestas tropicais ligados à demanda local.
O relatório responde às recomendações da força-tarefa independente Iniciativa Global de Recursos (GRI, na sigla em inglês), que consultou mais de 200 empresas e organizações-chave. O grupo é um fórum multilateral sobre desmatamento composto por investidores, empresas de bens de consumo e retalhistas, que pediu, entre outras coisas, a criação de uma obrigatoriedade para as companhias que compram os produtos, a fim de que sejam responsabilizadas.
"Estamos em um ponto de inflexão extraordinário - os governos estão tendo que investir na recuperação e têm opções sobre como investir para reconstruir melhor. Uma das maneiras de fazer isso é por meio de nossas cadeias de suprimentos e do que compramos. A resposta do governo ao nosso relatório da GRI reconhece a responsabilidade do Reino Unido em garantir que não estamos importando desmatamento e contribuindo para novas crises ambientais, mas fazendo isso em parceria com outros países para ajudá-los a fazer essa transição para a sustentabilidade", afirmou Sir Ian Cheshire, presidente da força-tarefa independente.
De acordo com o governo britânico, o pacote de medidas vai garantir maior resiliência, rastreabilidade e sustentabilidade às cadeias de abastecimento do Reino Unido. A nação deve, ainda trabalhar em parceria com outros países e apoiar agricultores na transição para sistemas de uso da terra e alimentos mais sustentáveis.
O relatório desta terça-feira também detalha medidas mais amplas do governo para apoiar os países e empresas que buscam reduzir o desmatamento impulsionado por commodities. As políticas envolvem compras públicas e o desenvolvimento de um Plano de Ação do Setor de Serviços de Alimentos sustentável. "O estímulo às mudanças no setor financeiro também está fortemente presente na abordagem do governo, incluindo o aumento do investimento no uso sustentável da terra", diz o governo.
Esse tema deve ser levado à Cúpula das Nações Unidas sobre Mudança do Clima em 2021, que será realizada em Glasgow, na Escócia, um dos países que compõem o Reino Unido. A ideia é acelerar uma transição global para cadeias de abastecimento mais sustentáveis em uma ação conjunta que envolve países produtores e consumidores de commodities de risco florestal.
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