As eleições municipais deste domingo (15) foram marcadas em Bariri por um fato inédito na história da cidade depois que a servidora pública municipal Myrella Soares da Silva, do DEM, tornou-se a primeira mulher trans a se eleger para um cargo eletivo na cidade de cerca de 35,5 mil habitantes.
Com 343 votos, Myrella, de 39 anos, foi eleita vereadora com a oitava maior votação e tornou-se ainda a única mulher na cidade a conquistar um cargo público no voto popular – ela vai dividir o plenário e a tribuna da Câmara com 8 homens. Ela também é a primeira vereadora trans no centro-oeste paulista.
Apesar de destacar o ineditismo de seu feito e o pioneirismo na luta por sua identidade, Myrella diz que não quer ser vista em seu mandato apenas como “uma trans que é vereadora”.
“Fui a primeira trans servidora pública de Bariri, a primeira a trocar o gênero nos documentos assim que a lei permitiu, a primeira a fazer a cirurgia de transição na cidade, mas sou reconhecida aqui muito mais pelo meu desempenho na área da saúde, onde atuo”, diz Myrella.
Paranaense de Jandaia do Sul, Myrella Silva mudou-se para Bariri aos 4 anos de idade. Solteira, mora com a mãe e a família. Formada em artes visuais e design, Myrella já havia tentado se eleger vereadora nos dois últimos pleitos, em 2012 e 2016, sem sucesso.
No ano passado, conta que concluiu sua transição com a cirurgia definitiva, para ela o capítulo final de um processo que começou há mais de 20 anos, quando, como conta, começou a se entender como mulher. Agora eleita, diz que vai lutar pela defesa da diversidade e pelas minorias.
"Sou afrodescendente e trans, mas reconhecida por meu trabalho. Quem me conhece há tempos e pegou o início da minha transição sabe que sou trans, mas muita gente sabe apenas que sou uma servidora pública dedicada. Prefiro que entendam que sou uma vereadora que, por acaso, é trans”, diz Myrella.
A nova vereadora de Bariri passa a integrar uma estatística que só cresce no Brasil. Segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), pelo menos 25 candidatos e candidatas trans conquistaram uma vaga nas Câmaras de Vereadores do país, um aumento de 200% em relação ao pleito de 2016.
Entre eles, dois transexuais estão entre os dez vereadores mais votados da capital neste ano. Erika Hilton (PSOL) recebeu 50.508 votos e foi a 6ª mais votada, e Thammy Miranda (PL), filho da cantora Gretchen, teve 43.321 votos, o 9º da lista.
G1