A Defesa Agropecuária de São Paulo, órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, investiga a morte de ao menos 750 mil abelhas em uma área de criação na zona rural de Jardinópolis.
A suspeita é de que elas tenham morrido após a passagem de um avião soltando pulverizadores em uma plantação de cana-de-açúcar ao redor do apiário. Por conta do vento, o produto químico teria sido levado às caixas com os insetos.
“Foi solicitado à empresa que realizou a pulverização os planos de voos e os relatórios operacionais para confrontar as condições ambientais no momento do voo e as condições recomendadas para aplicação”, informa o órgão em nota.
Ao G1, o gerente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Otávio Okano, disse que o órgão também investiga quais foram os outros possíveis danos ambientais na região.
"Pode ser desde advertência até uma multa. O valor depende dos agravantes que possam ter. Não deve ter morrido só abelha. Deve ter sido atingido área de preservação permanente e pode ter causado dano ambiental. Primeiro tem que fazer uma vistoria. Só mais para frente dará para saber", diz.
A empresa que fez a pulverização não foi localizada pela reportagem.
Prejuízo
O apicultor Antônio Anderson de Matos Magalhães tem cerca de 1,5 milhão de abelhas que atuam na produção de mel e são divididas em grupos de 50 mil em 30 caixas.
Após o incidente de domingo (3), foi possível calcular a perda de ao menos 50% dos insetos, mas somente no final da semana ele terá o balanço total.
“Boa parte já foi morta. Tem caixas que foram 100%, tem caixa que dá para perceber que foram 80%, pela movimentação que sobrou quando a gente abre. Tudo indica que, no decorrer da semana, vai perder o restante do enxame”, conta.
Magalhães estima um prejuízo inicial de R$ 12 mil somente com as caixas usadas para armazenamento das abelhas. O material será incinerado após ser atingido pelo produto químico da pulverização.
As perdas na produção de mel, produto que o apicultor revende a outras presas, ainda não foram calculadas. Ele registrou um boletim de ocorrência.
“Com a mortandade das abelhas, vai afetar, com certeza, nossa produção. O apiário que eu tenho ali já tem quatro anos, tem uma certa seleção. A gente vai selecionando a genética, deixando cada vez mais forte, para melhorar a produção”, diz.
Recuperação
O apicultor afirma que para recuperar as abelhas que morreram será necessário começar do zero.
Uma das alternativas é pegar insetos de outros apiários que ele tem e trabalhar na multiplicação para chegar à mesma quantidade do enxame que existia. Outra situação seria resgatar abelhas de áreas urbanas e levar ao apiário.
No entanto, os procedimentos demandam tempo e fazem a produção cair, pois uma parcela das abelhas será usada para a reprodução.
“Uma delas precisa ser a rainha. Aí, quando ela estiver com mais ou menos 10 mil abelhas, vai começar a fazer a postura. De 30 a 40 dias vai voltar a ter o volume de abelha e voltar a ficar grande”, explica Magalhães.
Análises
A Coordenadora de Defesa Agropecuária de São Paulo disse que um médico veterinário e um engenheiro agrônomo vão verificar se os sinais observados nas abelhas apresentam intoxicação ou outras doenças.
Em caso de suspeita de intoxicação, as abelhas mortas ou com dificuldades de movimentação serão recolhidas e elevadas ao Laboratório de Ecologia dos Agroquímicos do Instituto Biológico.
Depois, um engenheiro agrônomo vai fiscalizar o uso de agrotóxicos nas propriedades no entorno da área afetada para saber se a aplicação é feita de forma regular.
“As empresas de pulverização aérea devem estar cadastradas junto à Defesa Agropecuária. Caso seja encontrada alguma irregularidade nos itens avaliados, serão aplicadas as medidas legais cabíveis em cada situação”, disse o órgão.
EPTV