A secretária de saúde de Batatais (SP), Bruna Tonetti, comemora os primeiros sinais de que o confinamento de duas semanas para frear a Covid-19 na cidade possa ter dado certo. De 15 a 30 de maio, a cidade decretou “lockdown” e fechou, inclusive, supermercados.
Dentre os dados positivos está a fila de espera por leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) zerada na terça-feira (1º), na Unidade Pronto Atendimento (UPA) da cidade.
Antes das restrições, era uma média de 16 pessoas à espera. Durante o confinamento, o número subiu para 21. Todos se revezavam para usar os oito respiradores da unidade enquanto aguardavam regulação para hospitais.
Agora, mesmo com ocupação máxima nas nove vagas da Santa Casa, as únicas da cidade, é possível dar alta a pacientes sem que outro dê entrada na sequência, segundo Bruna.
“A gente fazia milagre. A gente superava. Era uma situação muito crítica de autofluxo e a gente tentava rodar os pacientes em diferentes sistemas de oxigenoterapia, sem nenhum prejuízo, para que gente conseguisse atender a demanda que eles precisavam. A gente fica até emocionada de ver essa situação [sem espera]”, afirmou.
‘Forte adesão’
Dados da plataforma do governo estadual que monitora o isolamento social por meio de parcerias com as empresas de telefonia móvel, apontam que Batatais é a terceira cidade de São Paulo com melhor índice.
Na segunda-feira, data da última atualização do sistema, o munícipio indicava 54% de isolamento social, ficando atrás apenas de Mococa e São Joaquim da Barra. Durante o confinamento, o dado ficou entre 55% e 60%.
“De fato nosso município mostrou uma forte adesão ao isolamento durante esses dias de medidas compulsórias quanto à restrição da circulação. Nós percebemos desde domingo, que foi quando se encerrou o prazo, que nós tivemos uma queda nos casos, mesmo que as projeções ainda devem ser esperados nos próximos dias”, disse Bruna.
A secretária disse que o município chegou a registrar 130 casos positivos por dia, mas nessa semana foram 16 novas infecções no domingo, 25 na segunda-feira e 33 na terça-feira.
"Nós sabíamos que não adiantaria fazer ['lockdown'] cinco dias ou menos que isso, ou dez, por exemplo. Nós entendíamos que seria muito pior fazer por um tempo e prorrogar, porque você cria uma expectativa que é muito difícil na população para planejamento posterior de retomada. É muito adequado trabalhar com total transparência no tempo que já sabe que vai ficar restrito do que passar dez dias e precisar prorrogar por mais um tempo. Naquela ocasião, embora houvesse dificuldades, nós mostramos que o seria no mínimo 14 dias e o ideal mesmo seria 20", explicou.
Nessa semana, a Prefeitura começou a liberar algumas atividades econômicas na chamada fase de transição. Pelo novo decreto, os supermercados podem reabrir, mas com 25% da capacidade, enquanto o comércio continua funcionando apenas por delivery. Salões de beleza e academias também podem operar, mas com restrições.
Escalada levou ao 'lockdown'
Somente no final do mês de maio que a situação de Batatais passou a ser menos alarmante em relação à Covid-19, pois durante os outros dias o cenário era de extrema preocupação, avalia Bruna Tonetti.
O mês registrou o maior número de casos e mortes desde o início da pandemia na cidade, com 1.849 infectados e 43 óbitos, o que levou a adoção das medidas mais restritivas. O total no município é 5.805 casos e 131 mortes.
“Batatais acabou iniciando as restrições na região porque a gente já tinha esse crescente aumento no número de casos e sabíamos que a tendência seria aumentar, até pela introdução da P.1 no nosso município. A nossa forma de cortar a transmissibilidade era sabendo que a gente experimentaria um número muito grande de casos durante o lockdown”.
A queda de casos relatada pela secretária, no entanto, ainda não aconteceu com os óbitos. Segundo ela, os pacientes que não resistiram à Covid, a maioria entre 20 e 50 anos, estavam internados antes das restrições.
“Por enquanto ainda não consigo reduzir os óbitos porque esses pacientes já estava evoluindo para a gravidade muito antes. Durante o lockdown foram internados e, a depender de cada caso, os tratamentos duram até 30 dias”, explicou.
Monitoramento do Butantan
A escalada de casos e óbitos chamou a atenção do Instituto Butantan que iniciou, no sábado (29), um projeto de monitoramento e rastreamento da Covid-19 na cidade com testagem em massa durante três meses. A primeira fase foi até domingo.
O objetivo é aplicar estratégias de combate à pandemia por meio do isolamento dos pacientes confirmados.
O município foi dividido em 11 regiões, chamadas de "clusters";
Em cada cluster, 32 residências são sorteadas para receber a visita de dois agentes de saúde;
Todos os moradores, sem limite de idade, poderão realizar o teste rápido de antígeno para detectar a Covid-19;
A cada 15 dias, um novo sorteio será realizado e novas casas serão selecionadas em cada cluster, em uma rotina que se repetirá por três meses.
Caso um dos moradores não esteja em casa, ele vai ser comunicado a comparecer no local fixo de testagem.
Na primeira etapa, 484 casas foram visitadas, algumas com oito e outras com um, dois moradores, de acordo com a secretária. Dentre os casos positivos encontrados está uma criança de nove meses.
Todas as pessoas que tiveram a Covid detectada fizeram a contraprova com o RT-qPCR, que será analisada pelo Hospital da Clínicas de Ribeirão Preto (SP). O balanço oficial da primeira fase de testagem em massa deve ser divulgado nos próximos dias.
Tantos os selecionados por sorteio quanto os demais moradores serão incentivados a baixar o aplicativo Tainá/GHM para realizar uma autoavaliação diária de possíveis sintomas, contato com infectados, hábitos de prevenção e transporte, vacinação e distanciamento.
O aplicativo também terá a função de notificar os moradores sobre casos de Covid-19 próximos aos respectivos endereços. A participação no projeto é voluntária e todas as informações serão mantidas sob sigilo.
G1