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Pesquisadores de Bauru criam jogo para conscientizar sobre crimes na cadeia de produção do açúcar
Economia e Negócios
Publicado em 27/04/2022

Pesquisadores de Bauru (SP) lançaram um jogo que faz uso de duas redes sociais para divulgar um livro relatório sobre crimes na cadeia de produção de açúcar.

Desenvolvido a partir de um edital de uma Organização Não Governamental (ONG) que atua na promoção e defesa de políticas de saúde pública, a proposta coloca o jogador na posição de diretor de uma usina de cana-de-açúcar.

A companhia fictícia, de nome Doce Bagaço, busca expandir suas atividades, mas, para isso, coloca o jogador em situações de cometimento de crimes.

A narrativa do jogo busca sensibilizar o público, ao mesmo tempo em que divulga um livro produzido pela agência de jornalismo investigativo Papel Social.

O jogo, intitulado "Doce Bagaço", é ambientado em dois populares aplicativos para celular: o WhatsApp e o Instagram, que se transformam em palco para a narrativa, que, apesar de ficcional, é baseada nos casos concretos de crimes investigados pela Papel Social.

Segundo a agência, "Doce Bagaço" convida o jogador a tomar uma série de decisões em nome da usina de cana-de-açúcar para expandir sua produção. No Instagram, a composição de imagens do feed ilustra o estado atual de produção da usina e a progressão do jogo

O perfil apresenta dilemas empresariais ao jogador, que, ao clicar na marcação de fotos, irá selecionar o caminho a ser tomado pela usina. A cada nova decisão tomada, o jogador será levado a um novo perfil, no qual o resultado da ação será apresentado por texto e imagem.

 Na versão do jogo para WhatsApp, o jogador (diretor da usina) receberá mensagens de seu gerente de operações. O ganancioso funcionário precisa de respostas rápidas para dar continuidade às ações de expansão da Doce Bagaço, pressionando o jogador a escolher sempre entre duas opções.

A dinâmica da narrativa se desenvolve por mensagens de áudio, enquanto a resposta do jogador é identificada pelos numerais um ou dois, enviados como mensagem de texto.

Livro

O livro "O Sabor do Açúcar" mostra, com exclusividade, que os crimes atualmente praticados em fazendas de cana-de açúcar estão vinculados à maior cadeia produtiva de açúcar do mundo, controlada pela Coca-Cola e pelos quatro principais operadores globais de commodities agrícolas.

 Após dois anos de investigação, dezenas de entrevistas e milhares de páginas analisadas, a Papel Social estabeleceu elos que vinculam as empresas aos crimes de trabalho escravo, invasão de terras indígenas, contaminação ambiental, grilagem de terras, desmatamento, fraudes tributárias e intoxicação de trabalhadores por agrotóxicos.

De acordo com Marques Casara, jornalista, documentarista e autor do livro, "a investigação mostra que a cadeia produtiva do açúcar está vinculada a um modelo insustentável e violento, objetivando a produção de alimentos baratos, viciantes e altamente rentáveis às grandes corporações. Com uma boa dose de malefícios à saúde humana".

Iniciativa
O projeto inovador é uma coprodução da Neurônio Produtora e Camino Audiovisual, e reuniu um grupo de cinco pesquisadores alunos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) do campus de Bauru, que também integram o Plano Conjunto, um coletivo de produtores de audiovisual do município.

Bruno Jareta (doutor em comunicação), Ana Heloíza Pessotto (doutoranda em mídia e tecnologia), Rene Lopez (doutorando em mídia e tecnologia), Luís Miguel (mestrando em design) e Fabio Cardoso (doutorando em comunicação) identificaram as potencialidades do uso de plataformas populares como Whatsapp e o Instagram, juntamente com a facilidade de acesso, uma vez que o jogador não precisará instalar um novo aplicativo.

 "A universidade é um espaço de construção de conhecimento e acreditamos que podemos aplicar o que aprendemos e estudamos em ações que gerem impacto social. Cada um da equipe trouxe repertórios teóricos e práticos fundamentais para alcançarmos a inovação nesse jogo", explica Ana Heloíza, roteirista do game.

O coordenador e responsável pela proposta do jogo, Bruno Jareta, explicou que a ideia é "criar uma experiência narrativa a partir de um humor ácido e que coloque o público como agente desses crimes. Isso pode, pelo sentimento de aversão, dar ênfase à gravidade dessas ações e, a partir disso, ajudar na busca de soluções para os problemas na cadeia produtiva do açúcar."

Acessibilidade
O jogo "Doce Bagaço" foi concebido para que barreiras visuais ou sonoras não fossem impedimento da jogabilidade. Desde as primeiras etapas de produção, a acessibilidade foi um elemento fundamental para o projeto.

No Instagram, todas as imagens estão descritas com texto alternativo. E, ainda, durante todo o jogo, os textos também estão acessíveis em Libras. Já na versão para WhatsApp está disponível o audiojogo. Neste modo, toda a narrativa é apresentada por mensagens de áudio.

"Pensar a acessibilidade do projeto desde o princípio nos permite oferecer alternativas na jogabilidade para que diferentes públicos possam aproveitar essa experiência. Com as duas versões do jogo, buscamos garantir que tanto pessoas surdas quanto com deficiência visual pudessem jogar de forma plena", explica Miguel, especialista em acessibilidade e ilustrador do jogo.

 Para acessar o jogo "Doce Bagaço" via Instagram, o endereço do perfil é @docebagaco. Também é possível visualizar através do site.

 

G1

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