Cibercriminosos desenvolveram novas variações de um programa que infecta o sistema de maquininhas de cobrança, a fim de provocar o bloqueio de pagamentos via aproximação, principalmente no celular.
Entenda o golpe em 4 pontos:
Criminosos entram em contato com lojistas se passando por funcionários de empresas responsáveis por pagamentos eletrônicos. Com a desculpa de que se trata de uma manutenção, eles pedem que os lojistas acessem um link por meio do computador onde fica o sistema de cobrança;
Quando lojistas clicam no link, a quadrilha instala um vírus que dá acesso remoto ao sistema;
A partir daí, os bandidos conseguem detectar e impedir a cobrança por aproximação, exibindo uma mensagem falsa de erro na tela na maquininha, a fim de forçar que o consumidor insira um cartão físico para fazer o pagamento. Nem o lojista e nem o cliente percebem que se trata de um golpe;
Ao usar o cartão físico, a vítima pode ficar vulnerável a fraudes feitas pelos bandidos, como compras indevidas.
As informações foram divulgadas nesta terça-feira (31) pela Kaspersky, especializada em cibersegurança. A empresa diz que, para fazer compra com o cartão da vítima, os criminosos usam outro equipamento, e não aquele que foi hackeado. E que o esquema permite realizar golpes mesmo em cartões protegidos por chip e senha. Veja como se proteger.
Ao g1, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) afirmou que ainda não identificou "nenhuma evidência da ação de um suposto malware nas máquinas de cartão que estaria bloqueando as transações por aproximação".
Por que bloquear a compra por aproximação?
Esses bandidos já conseguiam dar o golpe hackeando os sistemas de lojas, segundo a Kaspersky, por meio de um programa malicioso instalado na hora da falsa manutenção.
A empresa diz que esse programa seria uma evolução de um "malware" usado por bandidos em caixas eletrônicos.
O novo golpe é um refinamento do antigo: a novidade é que, agora, o programa conseguiria detectar e bloquear compras por aproximação.
Mas por que isso interessa aos criminosos? Acontece que as compras por aproximação ("contactless") no celular têm um recurso que aumenta a segurança para o usuário: cada transação gera um número novo de cartão, que é diferente do cartão físico. E esse número só vale para aquele pagamento.
Isso devido ao uso de uma chamada tecnologia Near Field Communication (NFC), uma evolução da RFID, radiofrequência usada em cartões que permitem o pagamento por aproximação, explica a Kaspersky.
Como os criminosos querem capturar dados que possam ser usados depois, eles precisam do cartão físico.
Por isso é que, ao detectar que uma transação será pelo modo de aproximação, a máquina infectada bloqueia essa operação com NFC, a fim de forçar o consumidor a usar cartão físico para o pagamento.
“Essas transações (por aproximação) são extremamente convenientes e especialmente seguras, isso mostra a criatividade e conhecimento técnico dos criadores com relação aos meios de pagamento”, afirma Fabio Assolini, chefe da Equipe Global de Pesquisa e Análise (GReAT) da Kaspersky na América Latina.
Golpe permite escolher clientes
Segundo a Kaspersky, os criminosos conseguem até filtrar as vítimas pelo tipo de cartão, como Black/Infinite, que costumam estar vinculados a saldos e limites mais altos.
A empresa diz que a quadrilha por trás desse esquema atua na América Latina desde 2014. No entanto, até o momento, "as modificações mais recentes foram detectadas apenas no Brasil".
A Kaspersky afirma que, durante o carnaval do Rio, em 2016, os bandidos usaram o programa para capturar dados de mais de 28 mil cartões de crédito e roubar o dinheiro de mais de mil caixas eletrônicos de um banco brasileiro.
E que, em 2019, a quadrilha fraudou cartões de débito Mastercard emitidos pelo banco OLB, na Alemanha, sacando mais de 1,5 milhão de euros de cerca de 2 mil clientes.
Como se proteger
O consumidor que se deparar com a situação deve buscar alternativas, como pagamento via PIX ou dinheiro;
Sempre verifique os comprovantes de valores emitidos nas faturas de cartão; caso existam gastos indevidos, entre em contato com a instituição financeira responsável e faça um boletim de ocorrência;
Lojistas devem redobrar a atenção com qualquer solicitação que peça para verificar suas maquininhas. Antes de fazer o download de algum software solicitado, devem entrar em contato com a empresa do cartão para saber se aquilo é de praxe ou se algo está errado.
G1