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Suco de laranja escapa do tarifaço: 'Casados com os americanos, para o bem e para o mal', dizem exportadores
Por Administrador
Publicado em 31/07/2025 12:49
Brasil

O suco de laranja e a castanha do Brasil são os únicos alimentos a entrarem na lista de exceções do tarifaço de 50% em cima de produtos exportados do Brasil aos EUA.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) o decreto que determina uma sobretaxa de 40% nas vendas brasileiras para o país. Essa sobretaxa é somada ao imposto de 10% determinado por Trump em abril.

Com a exceção dada aos dois alimentos, entre outros produtos, fica valendo a sobretaxa de 10% imposta em abril, segundo Leonardo Munhoz, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Bioeconomia.

 No caso da laranja, há ainda uma tarifa fixa de US$ 415 (equivalente a cerca de R$ 2,3 mil) por tonelada do suco brasileiro, explica Wharlhey Nunes, analista da consultoria Agro do Itaú BBA.

Dependência mútua
Com lavouras dizimadas, os Estados Unidos são dependentes do suco de laranja brasileiro: quase metade dos 3 milhões de litros de suco consumidos por lá vem do Brasil.

Para o diretor da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto, a exceção do suco em relação à tarifa acontece para proteção das próprias empresas norte-americanas.

Sem as exportações para os norte-americanos, o setor brasileiro previa perdas de até R$ 4,3 bilhões ao ano. Isso porque os americanos compram 41,7% do volume exportado, perdendo apenas para a União Europeia, com 52%.

"Estamos casados com os americanos e os americanos com a gente, para o bem e para o mal", disse em entrevista à GloboNews.
Neto explicou que existe a busca por novos mercados. Contudo, o suco de laranja apenas ganha volume nas compras em países que possuem a renda per capta acima de US$ 20 mil por ano, limitando a demanda para 40 países.

Além disso, o setor de sucos brasileiro possui infraestrutura nos EUA, como terminais e navios próprios, para receber a produção.

Os EUA tornaram-se mais dependentes das importações de suco de laranja nos últimos anos devido a um declínio acentuado na produção doméstica, por causa de furacões, períodos de temperaturas muito baixas e da doença greening.

O greening afeta os pomares e diminui a qualidade e a produtividade da fruta. Ele é causado por uma bactéria, que, por sua vez, é disseminada por um inseto.

O estado da Flórida é o mais afetado. Ele representa 90% do suco de laranja americano. Os prejuízos por lá causaram uma retração de 28% na produção do país na safra 2024/2025.

Os preços do suco de laranja vêm enfrentando altas seguidas. A lata de 473 ml atingiu o preço recorde de US$ 4,49 em fevereiro deste ano (equivalente a R$ 24,84).

E a situação pode piorar: a próxima colheita deve ser a menor desde 1986, quando começou a série histórica do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Sem os brasileiros, o diretor da CitrusBR acredita não haver outro país que possa suprir a necessidade dos norte-americanos. Apesar disso, o México concorre com o Brasil pelo mercado, aponta o Itaú BBA.

Por outro lado, produção no Brasil cresce

A safra brasileira de laranja 2025/2026 deve ser maior do que 36% do que a passada, gerando um crescimento de 8% na produção de suco.

Apesar de o Brasil também ter sido atingido pelo greening, o avanço da doença diminuiu nesta safra e o clima melhorou, o que deve resultar também em frutas de melhor qualidade.

O Brasil deve responder por cerca de 70% da produção mundial de suco neste ano, segundo o Itaú BBA. Com isso, vai recuperar parte dos estoques, que são os menores das últimas quatro décadas.

O declínio nas safras anteriores fez com que até mesmo frutas de qualidade inferior fossem usadas no processamento, aponta o Itaú BBA.

Com a reposição e sem o mercado americano, o Brasil pode não ter para onde escoar tanto suco.

"É muito ruim. É um efeito que vem para toda a cadeia. Pega as indústrias, pega o produtor, pega todo mundo. Ninguém está a salvo dos efeitos disto", afirma Netto.

 

G1

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