Presidente entrega BRT Transcarioca e reforma de aeroporto incompletos e sem data de conclusão
RIO — Às vésperas da Copa do Mundo, a presidente Dilma Rousseff inaugurou ontem no Rio duas das mais importantes obras prometidas para o Mundial: a ampliação do terminal 2 do Aeroporto Internacional Tom Jobim e o BRT Transcarioca (Barra-Galeão). Ambas, no entanto, ainda estão inacabadas, sem data para conclusão, embora constassem do programa de compromissos do governo brasileiro para o evento.
No aeroporto, Dilma Rousseff visitou o setor 2 de desembarque e descerrou uma placa alusiva à inauguração. Na verdade, o trecho que ela visitou já estava aberto ao público desde janeiro. Os tapumes, decorados com fotos do Rio, escondiam as escadas rolantes paradas que dão acesso ao piso inferior. Apenas as obras do embarque da zona restrita a autoridades e três esteiras de bagagem foram concluídas.
A reforma do Tom Jobim é parte de um plano de revitalização com custo de R$ 355 milhões, iniciado em 2008. Também não foram concluídas as obras do terminal 1, entregues apenas no setor A, por causa de uma sucessão de atrasos. Dados disponíveis no Portal da Transparência da Copa — site mantido pela União — confirmam que as datas não foram cumpridas. As obras nas pistas e nos pátios foram finalizadas em março deste ano, com cinco meses de atraso. O prazo original para as intervenções no terminal visitado pela presidente era abril de 2011. Já no terminal 1, a data prevista inicialmente era setembro de 2012.
AEROPORTO COMO RODOVIÁRIA
Em Madureira, Dilma Rousseff afirmou que as obras de infraestrutura que estão sendo feitas não são para a Copa, mas para o Brasil:
— Diziam que a Copa não teria legado e inauguramos o terminal 2 do Galeão. Não estamos inaugurando aeroporto para a Copa, mas sim para todos os brasileiros. Antigamente, avião era transporte de elite. Era. Passamos de 33 milhões de passageiros/ano para 133 milhões de passageiros/ano, porque muita gente que não podia passou a poder viajar de avião. Acusam a gente de transformar aeroporto em uma grande rodoviária. Mas isso não tem mal nenhum Nós transformamos o aeroporto numa grande rodoviária, porque não tem mal nenhum em rodoviária. É um aeroporto de qualidade, porque o povo brasileiro merece o que há de melhor — disse Dilma.
A presidente também circulou por várias estações do corredor do BRT Transcarioca (Barra-Galeão) que ainda estão sem data para ser abertas porque o prazo original previsto para a conclusão dos projetos não foi cumprido. Ainda segundo o Portal da Transparência, o BRT deveria estar concluído em fevereiro de 2013. Das 47 estações planejadas, apenas 22 estarão em operação durante a Copa e, mesmo assim, em horários predeterminados. A implantação do sistema precisa ser gradual para o usuário se acostumar às mudanças, já que o Transcarioca prevê alterações de itinerários e cortes de linhas de ônibus que devem ser implantados em pelo menos três meses.
ATRASOS NO CRONOGRAMA
O município havia prometido entregar para a inauguração ao menos a infraestrutura do corredor viário prevista no projeto. Mas o relógio venceu a corrida contra o tempo em alguns trechos do BRT. No Terminal do Fundão, os operários conseguiram concluir apenas no sábado a implantação da infraestrutura da estação, mas os vidros não foram instalados. Ao longo de várias estações da Zona Norte, era possível ver entulho acumulado. Ontem, em Madureira, na Avenida Ministro Edgard Romero, defeitos na pista do BRT eram reparados a duas horas da chegada de Dilma.
A prefeitura argumenta que o objetivo foi atingido, pois o turista que desembarcar no Tom Jobim poderá chegar ao Maracanã ou à Zona Sul fazendo baldeação na estação do Metrô em Vicente de Carvalho. Ontem, o prefeito Eduardo Paes fazia referência a um atraso de três meses na conclusão do projeto. E lembrou que o conceito do BRT Transcarioca surgiu em 1965, num plano urbanístico desenvolvido na gestão do ex-governador Carlos Lacerda.
— O que são três meses para quem esperou 49 anos?— disse o prefeito.
Ainda em Madureira, a presidente Dilma Rouseff assinou convênio para um empréstimo de R$ 2,7 bilhões do BNDES à prefeitura do Rio. Os recursos serão usados para concluir projetos de mobilidade urbana dos Jogos Olímpicos de 2016, incluindo o lote zero do Transoeste (Alvorada—Jardim Oceânico), a interligação do BRT Transolímpico com o BRT Transbrasil; as obras de duplicação da Avendia Salvador Allende; de ampliação do Elevado do Joá; de construção da ciclovia da Avenida Niemeyer; de interligação do túnel da via expressa do Porto com o mergulhão da Praça Quinze, no Centro; e de urbanização do entorno do Engenhão. A prefeitura entrará com R$ 301 milhões.
Ao fim do evento, cerca de 50 manifestantes se concentraram em frente à Estação de Madureira. Eles protestaram contra os gastos da Copa. Junto ao grupo, estavam representantes do Sindicato Estadual dos Professores, que aproveitaram para reivindicar verbas para a educação.
Em Manguinhos, na Zona Norte, a presidente também inaugurou um conjunto habitacional construído no terreno da antiga fábrica da CCPL. As chaves que ela entregou aos moradores eram simbólicas, já que os 564 apartamentos, prontos desde março, só serão ocupados a partir do dia 9. Ainda faltam equipamentos de combate a incêndio e o certificado de habite-se, que a Secretaria estadual de Obras espera para esta semana. O conjunto é na verdade a primeira fase do projeto original de 25 blocos, com custo total de R$ 110 milhões.
O Globo