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Episódio de Pasadena afeta imagem de 'boa gestora' de Dilma, afirma The Economist
Brasil
Publicado em 24/03/2014

No último domingo, a revista especializada em economia, "The Economist" repercutiu a matéria do Estado com a fala da presidente alegando que a decisão da compra da refinaria, em 2006, se deu com base em um relatório "falho"

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Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA)

A aprovação da presidente Dilma Rousseff da polêmica compra pela Petrobrás da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), revelada pelo Estado na semana passada ganhou destaque na mídia internacional. No último domingo, a revista especializada em economia, "The Economist" repercutiu a matéria do Estado com a fala da presidente alegando que a decisão da compra da refinaria, em 2006, se deu com base em um relatório "falho".

"As revelações do Estado sobre a responsabilidade da presidente Dilma na compra atingem sua imagem de boa gestora", afirma a matéria publicada no site da revista. "O mercado está cansado da interferência governamental na empresa que, na onda de más notícias, teve uma queda em suas ações", continua a publicação.

A "The Economist" cita ainda a última pesquisa eleitoral divulgada pelo Ibope na semana passada, que apontava a presidente ainda como favorita nas eleições deste ano, com 47% de aprovação. Para a publicação, contudo, o episódio da estatal petrolífera envolvendo "a promessa de grande riqueza atrapalhada pelo mau gerenciamento e a interferência governamental é uma história que afeta a própria trajetória do Brasil", conclui a revista.

CPI. Com a repercussão do episódio revelado pelo Estado, na última sexta-feira, 21, o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró, apontado por Dilma como responsável pelo relatório que subsidiou a compra da refinaria de Pasadena (EUA) foi exonerado pelo conselho de administração da Petrobrás. O executivo, que está de férias na Europa, deixou o cargo na diretoria financeira da BR Distribuidora.

Além disso, a oposição, capitaneada pelo pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), ameaça abrir uma CPI no Congresso para apurar as irregularidades na estatal, que já está sendo investigada pela Polícia Federal, Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal.

Entenda a crise na Petrobrás:

O "Estado" revelou na quarta-feira, 19 de março, que a presidente Dilma disse ter apoiado a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pela Petrobrás porque recebeu "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho". Foi sua primeira manifestação pública sobre o tema.

A aquisição da unidade no Texas é alvo de investigação por suspeita de irregularidades na transação - o caso foi revelado pelo 'Estado' em setembro de 2012. A compra de 50% das ações da refinaria de Pasadena por US$ 360 milhões aconteceu em setembro de 2006. Na época, Dilma Rousseff era ministra da Casa Civil do governo Lula.

A aquisição é investigada por Polícia Federal, Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Congresso por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas. O 'Estado' também revelou que os então ministros Antonio Palocci (Fazenda), atual consultor de empresas, e Jaques Wagner (Relações Institucionais), hoje governador da Bahia pelo PT, que integravam o Conselho de Administração da Petrobrás, seguiram Dilma dando voto favorável.

A Petrobrás se desentendeu sobre investimentos com a belga Astra Oil, sua sócia. Por causa de cláusulas do contrato, a estatal foi obrigada a ficar com 100% da unidade, antes compartilhada. Acabou desembolsando US$ 1,18 bilhão - cerca R$ 2,76 bilhões. Em 2013, a atual presidente da Petrobrás, Graça Foster, admitiu que a estatal fez mau negócio ao adquirir a refinaria americana.

Desde 2006 não houve nenhum investimento da Petrobrás na refinaria de Pasadena para expansão da capacidade de refino ou qualquer tipo de adaptação para o aumento da conversão da planta de refino - essencial para adaptar a refinaria ao óleo pesado extraído pela estatal brasileira. A justificativa é que isso se deve a dois motivos: disputa arbitral e judicial em torno do negócio e alteração do plano estratégico da Petrobrás. A empresa reconhece uma perda por recuperabilidade de US$ 221 milhões.

Executivos da gestão do ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o ex-diretor da Área Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró são apontados como dois dos responsáveis pela elaboração do parecer técnico 'falho'.

Paulo Roberto Costa foi preso nessa quinta-feira, 20, por uma outra investigação da Polícia Federal. A Operação Lava Jato, que desmontou organização criminosa acusada de lavagem de recursos ilícitos no montante de R$ 10 bilhões, identificou a participação de Paulo Roberto em esquema de lavagem de dinheiro e o relaciona a um 'plano de negócios com a Petrobrás' para venda de glicerina de uso industrial que seria intermediada por ele.

A prisão não tem relação com as suspeitas de irregularidades na compra da refinaria. Paulo Roberto, que se desligou da Petrobrás em março de 2012, atuou na estatal por indicação do PP e do PMDB, da ala do partido ligada ao senador José Sarney (AP). A ordem de prisão temporária foi decretada pela Justiça Federal no Paraná. Na segunda feira, a PF fez buscas na residência do executivo, no Condomínio Rio Mar IX, Barra, e apreendeu em seu poder US$ 181.485, R$ 751.400 e 10.850 euros em dinheiro vivo.

Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da estatal, viajou na quarta-feira à Europa de férias. Funcionário da Petrobrás desde 1975 e com formação em engenharia química, Cerveró assumiu o posto de diretor internacional no início de 2003, primeiro ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ele foi indicado pelo senador Delcídio Amaral (PT), dentro da cota petista de cargos na estatal. Também recebeu a bênção de José Dirceu, que naquele ano chefiava a Casa Civil.

Em 2008, em meio a uma disputa política entre PT e PMDB na Petrobrás, Delcídio (foto) perdeu a queda de braço e Cerveró teve de deixar o cargo, que foi depois ocupado por Jorge Zelada. O seu substituto seria indicado pelo PMDB. O ex-diretor foi então deslocado para a diretoria financeira da BR Distribuidora. Delcídio negou ser o responsável pela indicação de Cerveró.

Reuters

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